17.8.10

Retratos, garoupas, egos

É muito difícil fazer um bom retrato. Uma dourada, por exemplo; ou uma garoupa: como exprimir o que lhes vai na alma? Um peixe-espada: ainda mais difícil: prateado, filiforme, sem escamas... nada mais do que uma longa fita clara, uma ténia do mar, contra a qual o mais potente flash, a mais fina lente, o mais talentoso fotógrafo partirá irrevogavelmente os dentes (se for francês, claro; se for português "lutará em vão").

Quando era novo pescava muito peixe-espada, à tonelada. Era bom. O peixe vendia-se mais caro do que os outros; é só se pescava de dia, pelo que à noite ficávamos a pairar, sem nada que fazer se não embebedar-nos ou dormir. Eu embebedava-me muito, com whisky ou com tristeza. Assim aprendi quão difícil é fazer bons retratos.

Uma garoupa é um peixe muito bom, se pequeno; mas pode atingir dimensões gigantescas. Quando assim é fica uma merda intragável. Como alguns egos. Que se fodam as garoupas. E os egos.

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