26.3.11

Maré, palavras

Há uma relação entre a maré que enche e as palavras que se acumulam. Procuro-a, mas só me aparecem adjectivos feios: sorrateira, ineluctável, imperceptível.

Desisto e deixo-me submergir por elas, essas palavras que chegam sem se ver; deito-me de costas, flutuo, deixo-me levar pela corrente; na praia há palmeiras que o vento agita; a água é transparente, como as palavras.

Deito-me nelas como na água da maré que sobe; há uma relação entre a maré e a lua, entre as palavras e tu. Deixo-me levar pela corrente, deitado de costas. O meu mundo é o céu azul, a brisa que agita as palmeiras, a água que não vejo mas sei límpida como alguns sentimentos, algumas palavras; e profunda, também. Onde estou não tenho pé: não posso contar se não comigo, a água, as palavras, com os sentimentos que elas descrevem e as emoções que escondem.

Penso na maré: está a encher; leva-me para um porto seguro; um porto onde, eu sei, me perderei porque o meu mundo é o céu, o mar e esta inelutável vontade de te dizer. Não são as palavras.

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