Está calor em Paris. Excepcionalmente quente (a excepção é a época do ano, não o nível de temperatura). As esplanadas estão cheias, as parisienses saem aos magotes e os conterrâneos masculinos seguem-nas, claro. Fui jantar ao Chez Janou, no Marais, um dos meus favoritos daqui e de toda a parte. Come-se bem, a decoração é gira, francesa, o serviço é rápido e impecável, profissional até à medula, apesar do ar descontraído dos jovens empregados. São de certeza estudantes ou aspirantes a artista, mas são bons empregados de mesa.
Uma vez estava ali a almoçar; tinha um avião ao fim da tarde para Lisboa. Pensei que devia prolongar a refeição, dar-lhe continuidade em Lisboa, e telefonei para o Café Malacca, que é um dos restaurantes mais parisienses de Lisboa. E foi face ao Tejo (ainda era no Clube Naval) que jantei, uma linha directa Marais - Tejo, Place des Vosges - Cais do Sodré.
À espera do embarque para Fort-de-France.
O meu saco perdeu um quilo e meio, apesar de ter ganho duas mudas de roupa.
II
Chego à Martinica com sentimentos mixtos, confusos, entremelados, indefiníveis. A leste uma nuvem ameaça chuva e dentro de mim chove também, intermitentemente. Há duas maneiras de ir para o Marin: um táxi privado, e uma mistura de boleia e táxi co. Ou seja, só há uma maneira de ir para o Marin.
A primeira boleia é rápida, e a nuvem resolveu ir chover para outro lado. O carro deixa-me a meio caminho. Logo a seguir aparece um táxi co. Uma hora e meia depois de ter desembarcado do avião estou no Marin, um bocadinho menos confuso - não sei se por causa do mar, se por causa do cansaço. Não consigo estar cansado e confuso ao mesmo tempo, é uma limitação trágica. Acontece o mesmo com a fome, aliás.
Vou dar uma volta pelos pontões, a tentar resolver a díade mágica - trabalho e alojamento. Nem um nem outro - é Páscoa, e as pessoas que conheço não estão cá. Acabo no "meu" apartamento, o das janelas que dão para o vento. Fui lá metido à força, quase: mal o senhorio me viu disse-me, "espera, vou buscar as chaves"; e logo a seguir "estão aqui. Falamos depois". Foi tudo.
E hoje arranjei um embarque. É Switch? É. Mas é melhor do que nada. Embarco no domingo.
Às vezes lembro-me de quando a minha vida era complicada. Foi há muito tempo, num país estrangeiro.
Uma vez estava ali a almoçar; tinha um avião ao fim da tarde para Lisboa. Pensei que devia prolongar a refeição, dar-lhe continuidade em Lisboa, e telefonei para o Café Malacca, que é um dos restaurantes mais parisienses de Lisboa. E foi face ao Tejo (ainda era no Clube Naval) que jantei, uma linha directa Marais - Tejo, Place des Vosges - Cais do Sodré.
À espera do embarque para Fort-de-France.
O meu saco perdeu um quilo e meio, apesar de ter ganho duas mudas de roupa.
II
Chego à Martinica com sentimentos mixtos, confusos, entremelados, indefiníveis. A leste uma nuvem ameaça chuva e dentro de mim chove também, intermitentemente. Há duas maneiras de ir para o Marin: um táxi privado, e uma mistura de boleia e táxi co. Ou seja, só há uma maneira de ir para o Marin.
A primeira boleia é rápida, e a nuvem resolveu ir chover para outro lado. O carro deixa-me a meio caminho. Logo a seguir aparece um táxi co. Uma hora e meia depois de ter desembarcado do avião estou no Marin, um bocadinho menos confuso - não sei se por causa do mar, se por causa do cansaço. Não consigo estar cansado e confuso ao mesmo tempo, é uma limitação trágica. Acontece o mesmo com a fome, aliás.
Vou dar uma volta pelos pontões, a tentar resolver a díade mágica - trabalho e alojamento. Nem um nem outro - é Páscoa, e as pessoas que conheço não estão cá. Acabo no "meu" apartamento, o das janelas que dão para o vento. Fui lá metido à força, quase: mal o senhorio me viu disse-me, "espera, vou buscar as chaves"; e logo a seguir "estão aqui. Falamos depois". Foi tudo.
E hoje arranjei um embarque. É Switch? É. Mas é melhor do que nada. Embarco no domingo.
Às vezes lembro-me de quando a minha vida era complicada. Foi há muito tempo, num país estrangeiro.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.