14.2.12

Diário de bordos - Fortaleza, Ceará, Brasil,13-02-2012

Um dos recepcionistas do hotel chama-se Mardónio. Mardónio, perdoem-me a repetição.

Amanhã vou-me embora para Parnaíba. É aqui que o filme começa; até agora foi só o genérico. Dez horas de autocarro. O que me aborrece mais são os vidros fumados. Da outra vez encontrei uma janela através da qual se conseguia ver qualquer coisa, e a viagem passou num instante.

Hoje fui passear ao centro de Fortaleza. Visitei a Catedral. Um vitral informa que a construção (enfim, a "benção da pedra fundamental") começou em 1939 e que a inauguração foi em 1978. Por fora não é particularmente bonita (é aliás bastante pirosa) mas o interior é claro, arejado. Sentei-me um bom momento para tentar lembrar-me de quantas catedrais conheço tão ventosas por dentro como esta. Não consegui lembrar-me de nenhuma, mas penso que as haverá decerto em África, por exemplo.

O Centro (é o nome do bairro também) é bonito, vivo. Calçada à portuguesa, edifícios interessantes (poucos, valha a verdade) e a habitual confusão. Nestas cidades o comércio de luxo refugia-se nos centros comerciais, mas o comércio popular mantém a vida e a animação dos bairros centrais. A cidade é muito menos barulhenta do que Salvador, um grande ponto a seu favor, para além da segurança. Foi difícil encontrar uma esplanada para me sentar e beber uma cerveja. Quando finalmente encontrei, lembrei-me do Cidadania Lx: quanto trabalho teria aqui... Não se pode dizer que o Centro está descaracterizado - a vida não se descaracteriza, e provavelmente assim é mais interessante do que seria se tivesse transformado em museu. Mas cadeiras e mesas de plástico, ainda por cima velhas e de várias marcas de cerveja (ou refrigerante, não me lembro) numa praça tão bonita é pena. É a praça onde se concentram os vendedores de livros, em pequenas barracas ou tendas, não sei como chamar-lhes. Os livros estão acumulados em pilhas às vezes directamente no chão, outras em cima de um tecido. O cenário não gera grande vontade de ir flanar (pensei inevitavelmente no que seria a praça se fosse em França, daí o galicismo).

Descubro-me com saudades de Antigua. Não me refiro apenas às saudades de T., mas às que sinto pelo país. É uma surpresa, confesso. Caro que sabia que gostava daquilo, mas nunca pensei que fosse tanto; ou talvez a surpresa venha de ainda sentir saudades de um país, vá saber-se.

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