27.2.12

Diário de bordos - 270212

Um dia bastante preenchido, como um penico.

Tive de castigar o Raimundo: três dias sem trabalho. A verdade é que sou tão castigado como ele, mas enfim. Se não agisse agora, do dedo que lhe dei ao princípio já nem o braço teria, amanhã. Espero que lhe doa; e sirva para alguma coisa pagar-lhe acima de média. A verdade é que o homem é impressionante: dou-lhe tarefas para um dia e em menos de metade ele tem o trabalho feito. Mas estava a ficar com a cabeça muito alta, como nas marionettes, e lá teve de levar uma pancadinha.

Encontrei nove rolos - nove! - de tape. São rolos pequenos, de cinco metros; mas que bem souberam. B. está quase completamente tapado e quase completamente seco por dentro. "Quase é uma palavra que engana muito; os alemães quase ganharam a guerra", ocorre-me cada vez que uso a palavra. Mas neste contexto parece-me que posso usar. Ou devo, não sei.

A verdade é que para encontrar a bendita tape andei uma hora pendurado num moto-táxi cujo colete fazia publicidade ao Jardim Eterno, uma agência funerária que propõe igualmente, caso haja interessados, "planos preventivos de funeral". o homem conduzia bem, cuidadosamente, mas a ideia que ele poderia talvez querer aumentar o proveito levando um cliente prontinho ao Jardim Eterno não me deixou.

Amanhã às seis da manhã vou a S. Luis. O que eu gostaria de lá poder passar meia dúzia de dias!

E depois tudo terminou com uma daquelas dissonâncias cognitivas que me fazem odiar este país. Telefonei ao senhor do aço inox (que aparentemente já foi pago pelo menos duas vezes para fazer um trabalho do qual ainda não entregou uma peça sequer) quanto custaria acabar "as duas peças do mastro". São um galope e um cachimbo, peças não muito diferentes em dimensão. O homem começa "bem, a de cima são 130 reais", pausa. "As duas são 580". Como já sei do que a casa gasta não digo nada e pergunto-lhe "e os turcos [as peças para o bote, ele não sabe o que são turcos]?" "Essas estão incluídas no preço, já não há nada a pagar". "Ok, muito bem, vou aí para falarmos disso tudo.

Chego à oficina, ele confirma-me que as peças do mastro são 580 reais. "Muito bem; e então as peças do bote já estão pagas, não é?" "Não, não estão. Vou ali calcular quanto é". "Genilson, você acabou de me dizer ao telefone que aquilo já estava pago". Páro aqui: o homem tornou-se agressivo, mal-criado e tive que vir embora para não desatar à pancada.

Eu ouviu-o dizer que os turcos estavam pagos; não foi um caso de diz-que-disse. Trabalhar permanentemente neste ambiente é insuportável.

Enfim, as coisas avançam. A diferença entre o que há agora e o que havia quando cheguei é grande. Qualquer dia será maior ainda, e depois deixará de haver diferença: vira-se a ampulheta e começa a contar de novo.

Encontrei finalmente um site com um excelente glossário náutico em português: os meus parabéns à Associação Náutica da Gafanha da Encarnação, ANGE (o glossário está na página Arquivo). O primeiro passo está dado; agora é só continuar. (Estou a falar do site da ANGE.)

A gata não voltou a aparecer. Espero não lhe ter dado a última ceia.

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