3.2.12

Jardim

Um jardim é uma coisa misteriosa. Tem uma vida debaixo da vida que se vê. Conheço pessoas que olham para um jardim e conhecem os nomes todos das espécies todas que se vêem; mas mesmo para essas pessoas o jardim é misterioso.

Não basta dar nomes às coisas para que o seu mistério desapareça - às vezes, antes bem pelo contrário, um nome acresce o mistério das coisas, amplia-o, aprofunda-o. Todos os jardins são habitados por demónios e por anjos (também há lagartixas, claro, minhocas e aves; gatos e ratos; mas demónios e anjos são os principais habitantes de um jardim, sobretudo se tiver vista para o mar, para um vulcão ou para sul, que é o lugar para onde se deve viajar no inverno).

Há jardins sem vento, muito lineares e simétricos; não é desses que eu gosto. Gosto de jardins que deixem entrever a função do acaso, de jardins acometidos por demónios, de jardins onde os anjos não estejam completamente à vontade. Um jardim sem demónios é como um homem sem eles. E um homem sem demónios é uma piscina vazia.

Claro que há piscinas e piscinas, como há demónios e demónios, anjos e anjos. Nem todos os anjos são bons, nem todos os demónios.

Gosto de jardins onde o vento venha de passeio e se sinta em casa; gosto de flores que crescem num jardim como se fossem livres. Gosto desta mistura de vento, mar, flores, árvores, lagartixas, aves, anjos e demónios a que por vezes chamamos jardim; e outras chamamos vida.

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