28.2.12

Varanda sobre o rio - II

É uma varanda sobre o rio; corre devagar e traz tudo o que me trouxe aqui no reflexo laranja das luzes da ponte, na fealdade generalizada, na pergunta que me ocorre de cinco em cinco segundos: descerei eu um dia este rio?

Sei que a resposta é sim, descerás um dia este rio; descê-lo-ás de braço dado a um barco de pesca, a olhar para os fundos a ver se há água e para as margens a ver se há pedras e para ti, a ver se me amas ainda, tão longe e tão longe.

Descê-lo-ei a perguntar-me porquê e a dizer-te obrigado, desculpa, obrigado.

Obrigado é sempre a última palavra [para além de "sim, querida", claro].

É um rio que corre de trás para a frente, leva-me a de onde vim, e antes disso a um outro rio que o meu Pai subiu, teria a minha idade? Não sei. Não é nesse rio que este nasce, é muito antes disso.

E traz com ele o conjunto todo dos tempos todos por que já passei.

É por isso que gosto tanto deste rio, e o odeio tanto.


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