Se tivesse respeitado o desejo de só postar aqui quando tivesse boas notícias teria tido de esperar até hoje (enfim, ontem, para ser mais preciso): encontrei, finalmente um trabalho que é simultaneamente óptimo e fixo.
Juntar finalmente e trabalho fixo soa estranho. Afinal, com dizia ontem o meu amigo R., "foram só trinta dias" (referia-se aos dias difíceis em Palma). Mas a verdade é que a ideia de encontrar um lugar estável já me vinha a perspassar pela mente há algum tempo, mesmo antes desse maldito mês em que tudo dava ideia de conjurar contra mim. À chegada ao Marin tive uma proposta, mas era péssima e estava com pouca vontade de a aceitar.
Esta não. Sei pouco dela, no fundo: é normalmente paga, o barco é um 62' com vinte e nove anos (uma qualidade, para mim) que vai ser substituído por um catamaran em Maio; no Inverno vamos navegar pelas Caraíbas e no Verão pelas Bahamas, Flórida e - maravilha das maravilhas - Nova Inglaterra ; pouco mais, duas ou três condições - todas boas - um armador que ao telefone parece simpático e promete uma vida fácil e com poucas exigências a bordo.
Não sei se a realidade vai confirmar isto, ou se se vai dar ao trabalho de escaqueirar as expectativas com a desculpa, assaz esfarrapada, de que aos 55 anos não devia acreditar em Pais Natais. A ver vamos, como dizia o outro - é demasiado cedo para chamar para aqui o ceguinho.
Amanhã embarco num avião para Miami. Faço uma escala em San Juan mas não terei tempo de sair do aeroporto. Tudo isto me aparece envolto em perguntas, em dúvidas, em - porque não dizê-lo - medo. A verdade é que nunca quis ser skipper de proprietário porque a bordo não sou um modelo de tolerância e flexibilidade. A única hierarquia que reconheço é a do saber, não a do dinheiro ou da posição na pirâmide social. E sempre pensei que não há dinheiro que pague a liberdade de poder dizer vou-me embora.
Agora o desafio é manter o emprego (o meu recorde está em um ano e foi no Burundi, o emprego de que mais gostei até hoje), tentar aceitar que quem me dá trabalho tem uma palavra a dizer e não necessariamente errada; e sobretudo, lembrar-me de que a relva do jardim do lado é mais verde por causa de uma ilusão de óptica, só.
Esta é a parte mais fácil, e é o que me encoraja.
........
Não sou grande fã de praia, mas Les Salines não é uma praia, é uma excepção, e ontem fui lá. Cinco quilómetros a pé à ida, três (é uma estimativa) à volta: a boleia sem a Tatiana não funciona tão bem como com.
Estava a precisar de mar, viesse ele como viesse.
........
A vinda ao Marin revelou-se inútil, em termos de trabalho. Mas gostei de passar por aqui, rever paisagens e amigos, provar boudins e accras. Hoje vou mesmo autorizar-me um ti punch, em guiso de despedida. Tanto mais que o nível da substância no sangue voltou ao normal.
Da p... da substância, deveria dizer. Ainda por cima é uma coisa da qual não gosto e que quase não como.
Juntar finalmente e trabalho fixo soa estranho. Afinal, com dizia ontem o meu amigo R., "foram só trinta dias" (referia-se aos dias difíceis em Palma). Mas a verdade é que a ideia de encontrar um lugar estável já me vinha a perspassar pela mente há algum tempo, mesmo antes desse maldito mês em que tudo dava ideia de conjurar contra mim. À chegada ao Marin tive uma proposta, mas era péssima e estava com pouca vontade de a aceitar.
Esta não. Sei pouco dela, no fundo: é normalmente paga, o barco é um 62' com vinte e nove anos (uma qualidade, para mim) que vai ser substituído por um catamaran em Maio; no Inverno vamos navegar pelas Caraíbas e no Verão pelas Bahamas, Flórida e - maravilha das maravilhas - Nova Inglaterra ; pouco mais, duas ou três condições - todas boas - um armador que ao telefone parece simpático e promete uma vida fácil e com poucas exigências a bordo.
Não sei se a realidade vai confirmar isto, ou se se vai dar ao trabalho de escaqueirar as expectativas com a desculpa, assaz esfarrapada, de que aos 55 anos não devia acreditar em Pais Natais. A ver vamos, como dizia o outro - é demasiado cedo para chamar para aqui o ceguinho.
Amanhã embarco num avião para Miami. Faço uma escala em San Juan mas não terei tempo de sair do aeroporto. Tudo isto me aparece envolto em perguntas, em dúvidas, em - porque não dizê-lo - medo. A verdade é que nunca quis ser skipper de proprietário porque a bordo não sou um modelo de tolerância e flexibilidade. A única hierarquia que reconheço é a do saber, não a do dinheiro ou da posição na pirâmide social. E sempre pensei que não há dinheiro que pague a liberdade de poder dizer vou-me embora.
Agora o desafio é manter o emprego (o meu recorde está em um ano e foi no Burundi, o emprego de que mais gostei até hoje), tentar aceitar que quem me dá trabalho tem uma palavra a dizer e não necessariamente errada; e sobretudo, lembrar-me de que a relva do jardim do lado é mais verde por causa de uma ilusão de óptica, só.
Esta é a parte mais fácil, e é o que me encoraja.
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Não sou grande fã de praia, mas Les Salines não é uma praia, é uma excepção, e ontem fui lá. Cinco quilómetros a pé à ida, três (é uma estimativa) à volta: a boleia sem a Tatiana não funciona tão bem como com.
Estava a precisar de mar, viesse ele como viesse.
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A vinda ao Marin revelou-se inútil, em termos de trabalho. Mas gostei de passar por aqui, rever paisagens e amigos, provar boudins e accras. Hoje vou mesmo autorizar-me um ti punch, em guiso de despedida. Tanto mais que o nível da substância no sangue voltou ao normal.
Da p... da substância, deveria dizer. Ainda por cima é uma coisa da qual não gosto e que quase não como.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.