18.5.13

Quepos, Costa Rica, 17-05-2013

Quase é uma palavra que engana muito, todos o sabemos; e saber que o ARCTIC FRONT está quase pronto para amanhã não me deixa completamente à vontade. Mas pouco posso fazer: o que não tem remédio remediado está. A senhora que devia vir fazer as limpezas adoeceu subitamente, ao que parece, coitada; e só consegui uma substituta para amanhã de manhã. Claro que eu podia ter limpo, arrumado, lavado a loiça, aspirado, feito as camas em vez de tratar da contabilidade e - seja Deus louvado - falado com uma jovem, simpática, bonita e inteligente senhora enquanto bebia um rum Centenario 7 anos. Pois.

Mas estou cansado, fundamental, profunda, existencial, intrínseca, estruturalmente cansado. Prefiro correr o risco de ter que fazer eu isto tudo amanhã de manhã a ter a certeza de o fazer hoje. Deus existe e é generoso - ou pelo menos tem sido, bastante, ultimamente - e a senhora estará no barco às sete em ponto.

Espero que sim. Aposto que sim.

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O curto prazo está resolvido, quase; a etapa seguinte - pintar casco e convés, refazer o interior, fazer melhoramentos no sistema eléctrico e nos encanamentos de água doce, mudar o bocim, e mais meia dúzia de coisas pequenotas - está em marcha. Em breve terei dez dias de férias. Não mudei de vida, mudei de planeta.

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Estás tão longe, Lisboa; e faltas-me tanto. Tu e o que e quem lá tens dentro.

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Começo vagamente a perceber porque é a Costa Rica o país mais feliz do mundo, e estou contente por contribuir positivamente para essa estatística.

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A minha experiência profissional é como um leque sevilhano pousado aberto em cima de uma mesa: fiz muitas coisas cheias de cor, mas pouco tempo (com a óbvia excepção da náutica de recreio). Não posso falar muito das outras profissões; mas posso sem dúvida dizer que não deve haver muitas que sejam tão variadas, tão boas, tão exigentes e - simultaneamente - generosas como a minha. Conheço pessoas que gostam tanto do que fazem como eu - mas não consigo perceber como ou porquê.

Enfim, exagero. Muito: a verdade é que não preciso de comparações para saber que faço a melhor profissão do mundo; e que as outras não são profissões, são trabalhos, empregos, ocupações, biscates, torturas, castigos e punições.

Deveria talvez acrescentar, em abono da verdade, que me é agradável ver pessoas gostar tanto do que fazem como eu gosto do que faço; mas não consigo impedir-me de pensar. Isto é, de não ser relativista.

A "sou tolerante, mas não sou relativista" deveria talvez juntar-se " compreendo tudo, mas não sou relativista".

Claro que há aqui um bemol: faço o que faço por absoluta incapacidade de fazer outra coisa...

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Hoje tive oportunidade de medir a inacreditável quantidade de sorte que me foi dada ao encontrar aquela casa. Os pormenores seriam aborrecidos (ainda mais aborrecidos).

Um gajo sabe que alguma coisa se passa na sua vida quando no vocabulário quotidiano harmonia deixa de ser a palavra recorrente e é substituida por gratidão.




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