"...por se tratar para o rapaz, supõe, apenas de uma sombra louca e dolorida que mora longe, ao fundo da rua, e da qual só nos apercebemos aqui e além, quando a generosidade nos leva atrás de um ovo roubado na despensa ou quando o grito do sofrimento estala nas nossas noites de lua cheia, sombra que um dia se esfuma num dos funerais da nossa existência."
Regresso a Évora e ao restaurante o Cantinho, ando como e durmo, bebo vinho tinto e rum Flor de Caña 12 Anos que trouxe do Panamá. Oiço David Bowie, logo à noite vou ver o Mistério de Oberwald. Não é só a Évora que regresso, é à banalidade, uma das formas da felicidade. Ou da ausência de dor, pelo menos. Já é muito.
Talvez não seja assim tanta a banalidade: estou longe do mar e gosto disso. Começo finalmente a perceber o que são férias, voltar para o trabalho que se deixou, continuar aquilo que se interrompeu. Não sei há quantos anos isto não me acontecia, nem quantas vezes. Há muitos, e muito poucas. Procuro na memória e não me ocorre nenhuma [Adenda: a última vez foi em 1994, quando trabalhava para o HCR]. As férias são o primeiro passo para uma vida banal.
"Foge o mar dos meus dedos entre a noite, e a noite é uma canção que te procura".
(As citações são de O Que Diz Molero, Dinis Machado, Ed. Quetzal).
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.