"Lá foi, Leduc e o rapaz tiveram muita pena de o ver partir, falavam amiúde dele, da sua alegria e generosidade, e também da melancolia um pouco espessa em que às vezes se refugiava, a vida seguiu o seu curso, passou tempo, até que, repentinamente, Leduc se suicidou."
As férias continuam, insondáveis, variadas e ricas como o meu bem amado Molero. Revejo e vejo, trabalho um pouco e passeio muito, vou às capelinhas antigas e conheço novas. Sábado vou pela primeira vez a Guimarães; terça regresso ao meu bom Artie, que já começa a fazer-me falta. Ignoro se é azar, se sorte. Não consigo estar muito tempo longe do trabalho, seja por falta de imaginação seja por gostar do que faço.
Exposição A Invenção do Amor, de Isabel Zuzarte.
A Isabel tem o dom de tornar comoventes as coisas para as quais olha, ou de nos comover com a maneira como olha para as coisas. Não sei. Mas sei que ver a sua fotografia é uma experiência sentimental. A Invenção do Amor está um bocadinho desigual, mas essa fantástica capacidade de nos emocionar, de nos surpreender - há uma surpresa em cada emoção, sempre, porque as emoções são todas diferentes, todas novas, inventamo-nos a cada amor, cada afecto - está presente em todas as fotografias.
Nunca acreditei que a arte tem um género - não sei o que são a fotografia, a escrita, a escultura, a literatura, o teatro ou a poesia, a música no feminino ou no masculino -; mas esta exposição trouxe-me à memória uma outra grande fotógrafa que conheci, uma senhora chamada Simone Oppliger, que fotografava, como a Isabel, com a alma.
A exposição está no Conservatório Nacional, na rua dos Caetanos, em Lisboa. A data das minhas férias foi mais ou menos ajustada para poder estar em Lisboa ao mesmo tempo do que a exposição. Ou seja, exagero muito pouco se disser que vim do Panamá para a ver. Quem está em Portugal não tem muitas razões para não ir ver aquelas fotografias: valem uma viagem, qualquer que ela seja, porque nos oferecem muitas mais viagens, muito mais longe.
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