16.6.13

Diário de Bordos -Newark, EUA, 15-06-13

Nem tudo é culpa dos "americanos", claro. Pensei que tinha deixado a carteira no filtro de segurança e não deixei, estava no bolso de trás das calças, onde nunca  a ponho; resolvi comer um Philly Steak sem ver que havia um restaurante mexicano a meia dúzia de metros; e - foi aqui que tudo começou - devia ter-me lembrado no Panamá que nunca me deixariam embarcar nos EUA com três garrafas de rum, duas das quais de um litro (espero que a Alfândega portuguesa não leia este post).

Mas tudo o resto é culpa "deles": os trinta dólares que custa pôr as garrafas no porão (e, acabo de ver, não paguei; obrigaram-me a ir fazer um cartão de "crédito" expresso numa máquina - mete-se dinheiro sai um cartão com o valor equivalente - e não mo pediram. Ou seja, agora tenho trinta dólares que não sei para que servirão); a péssima, indescrítivel qualidade do Philly Steak, o pior que jamais comi; o preço aberrante de um Shiraz / Grenache no Vino Volo (aberrante mas apesar disso muito bom, forçoso é reconhecer); a impossibilidade de trocar notas de vinte dólares em notas de cem; e - ocorre-me agora, que já vou com quase uma a caminho das quase duas Margaritas no bucho, a impossibilidade de fumar seja onde for.

A verdade é que nos Estados Unidos tudo corre bem - como na Suíça e na maioria dos países por assim dizer civilizados - enquanto tudo corre bem. Mal um pentelho, um pentelhito pequenito põe os cornos fora do penico está tudo estragado. Friendly American mon cul, para dizer as coisas em várias líguas. Friendly enquanto lhes convém. Depois deixam de ser friendly.

Coisa que de resto não me incomoda particularmente - mas porra, deixem de nos receber como se fôssemos as pessoas que naquele momento faltam para as fazer felizes e cinco minutos depois como aquilo que somos realmente: uma dor no cul.

Enfim, uma quase Margarita a caminho de uma quase segunda, o Economist no saco, a perspectiva de um pequeno almoço em Lisboa, quinze dias de férias... Qué vayan, los americanos.

No Panamá não consegui encontrar o Economist. Se me dissessem que na Lua está à venda ficaria menos surpreendido.

Philly Steak é o equivalente americano de um prego. Quando é bem feito, por exemplo pela minha bem amada Sandra, do Skullduggery (ah Sandra, que saudades, Sandra, que saudades) é melhor do que qualquer prego que tenha comido até agora (enfim, a maioria deles, pelo menos). Quando é péssimo é pior do que tudo e não devia sequer ser mencionado.

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As Margaritas do Caliente Café são tão boas como as da Palapa, em Puerto Vallarta.  Mas isso infelizmente não chega para aconselhar uma vinda ao aeroporto de Newark, contrariamente a Puerto Vallarta, que pode ser visitada mesmo por quem não goste de Margaritas.

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Amanhã faz parte do programa ir buscar a Rolex. Se não consigo controlar o lado da receita, pelo menos que me exceda no da despesa (enfim, podíamos ter aqui uma discussão sobre a semântica na metáfora, mas isso fica para depois. Esta receita fica-me caríssima, e a despesa não me custa nada - pelo menos enquanto não inventarem peagens para bicicletas na Marginal).

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Como tão pouco é culpa dos americanos que eu me tenha esquecido de mudar a hora no tablet e tenha chegado à porta de embarque não cinquenta e sete minutos antes da saída mas três minutos depois. E lá se vai a minha tese por água abaixo. Porta fechada, manga desligada e recuada, bagagens a sair do porão?  Uma breve discussão entre a funcionária da porta e não sei quem (o tema sendo "mas eu disse que tinha o passageiro antes de começarem a descarregar a bagagem" , o que era manifestamente mentira),e eis-me na ponta da manga, cabelos esvoaçando decerto, se não os tivesse cortado, com a face intrépida de um navegador de quinhentos, a porta a ser aberta... e a entrar no avião agora de ar contrito e a pedir desculpa a todas as filas, uma a uma.

Que me tenham deixado entrar no avião compreende-se: as companhias de aviação não gostam de ver a sua classificação de pontualidade sofrer com coisas destas, por muitas precauções que tomem com os horários. Mas ninguém, nem um passageiro teve uma palavra menos cortês, foi desagradável comigo, reclamou.





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