14.10.13

Diário de Bordos - Red Frog Marina, Bocas del Toro, Panamá, 14-10-2013

O meu orgulho - como dizer: sapatal? Sapático? Sapateiro? - está ao rubro. Os sapatos Tommy Hilfiger (uma marca suíça) a uso há quando muito dois meses estão prontos para o lixo. Não tenho visto os Land Rover, uma marca que também faz veículos todo-o-terreno; suponho que a esta hora sejam um monte de mofo.

Nada que se compare aos Foreva que duraram quase dois anos e só foram deitados fora devido à insistência de uma jovem senhora. Estavam como novos, na minha modesta e inocente opinião.

Só chatices no horizonte. Entrar numa loja, olhar para coisas, sentir-me perdido e não ter, quase de certeza, uma senhora a dizer-me, estou a ver, Sir, se eu lhe disser que fazer compras é uma experiência traumática para mim.

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Um gajo pode não gostar do Panamá,  e deus sabe que eu não gosto (e que gosto de eufemismos e understatements). Mas nem a pior má-vontade do mundo resiste a passeios como o de ontem.

Os objectivos eram vários: levar J., dona de um hotel que nos pode enviar muitos clientes a passear com a família; descobrir sítios para ir quando tivermos clientes; familiarizar M. com o barco.

Os três objectivos foram atingidos, com o bónus da beleza. Este lugar é lindo de morrer, lindo de viver, lindo de ver, lindo.

Andámos pelo meio do mangal, perdemo-nos em recifes que parecia estarem por cima de nós de tão clara era a água,  sentimo-nos numa versão pacífica e tranquila do Apocalipse Now. O dia foi óptimo,  vai ser repetido em breve com outros amigos e, sobretudo, alimentou as nossas expectativas de uma época cheia de clientes.

Inch'Allah.

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Hoje o jantar é de novo no Palmar, a nossa sala de jantar, sala de estar e, se tudo correr como previsto, cozinha na quinta-feira. É para mim um espanto permanente que um sítio gerido por e para jovens tenha tão boa música,  tanto profissionalismo e tanta gentileza (se bem a cozinha pudesse, não tenhamos medo das palavras, ser um bocadinho mais regular - e alinhada pelos dias bons, claro, como o de hoje).

Enfim, quinta-feira venho aqui fazer o jantar - provavelmente um polvo de coentrada. Estou contente com a perspectiva,  apesar de lamentar a ausência de N., que continua retida em Shelter Bay com problemas de motor e me teria obrigado a fazer outra coisa pois não gosta de coentros.

Vou-me embora sem a rever e disso ainda tenho mais pena.  Mais uma amizade embrionária,  mais uma amizade que sobreviverá algum tempo à custa de palavras e que um dia, quem sabe, ressuscitará num porto qualquer deste tão vasto e tão pequeno mundo.

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A esperança voltou ao meu vocabulário. Parece-me um brinquedo novo, que aprendo a manejar como um miúdo um triciclo. Quase todas as surpresas são boas? Sim, não, não sei. Mas isto é muito mais do que uma surpresa e sobretudo muito mais do que bom.

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