17.1.14

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, Antilhas Francesas, 17-01-2014 - II

É preciso imaginar uma luz densa como a de Lisboa, já no fim do dia, oblíqua e quente; uma praia pequena, dourada e uma grande extensão de água. No fim desse plano de água há muitos barcos, um nevoeiro de mastros. Por trás dos mastros montanhas, verdes.

É preciso imaginar um homem sentado face a isto tudo. Os barcos, a luz, a água e as palavras são a sua vida, sempre foram.

É preciso imaginar uma vida: uma vida feita de mar, palavras e luz.

Um fim de tarde é uma vida. Basta imaginá-la, imaginá-lo.

O homem pensa no passado, muito pouco. Pensa no futuro. Pensa no presente. Pensa demasiado: a luz e o mar e o vento e as palavras não precisam que se pense neles.

Pensa: O ti'punch está para mim como a luz para esta paisagem.

Pensa: Tu estás para mim como vento para esta água.

Pensa: Como será andar aqui sem ti?

Pensa:

Não sei. Não há respostas. Não há certezas. Não há nada para além desta luz que o vento arrasta como o desejo arrasta um olhar numa pele.

Mar, barcos, luz e palavras: uma vida.

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