11.5.14

Diário de Bordos - Cidade de Panamá, Panamá, 11-05-2014 (cont.)

Vazio como a manhã de domingo numa cidade estrangeira, escrevi há muitos anos num poema que perdi ou teve o bom gosto de se perder.Agora tenho menos cidades estrangeiras, mas o vazio é o mesmo.

Passeio pelo Casco Antiguo, que hoje só tem turistas e dedicados vendedores. Está mais bonito do que quando aqui cheguei, mas continua uma mistura quasi-lisboeta de hiper-chic com hiper-sórdido, de prédios lindos e renovados com ruínas.

Gosto dessa mistura em Lisboa porque a vivo (ou melhor, quando a vivo). Mas não é bonita, vista de fora. Sobretudo porque aqui os extremos são muito mais extremos do que em Portugal.

Como encher um domingo uma cidade estrangeira? Indo almoçar ao restaurante Coca-Cola, talvez. E depois dormir a sesta. Ou sonhar com as fotografias que farei quando tiver uma máquina outra vez. Ou voltar a ler Atonement. É sempre a primeira vez.

"Viajar. Perder países", diz uma amiga de quem muito gosto. Ou perdermo-nos nos países? Reencontrarmo-nos? Ou tudo isso misturado, num esforço para deixarmos de ser estrangeiros - ou tornarmo-nos estrangeiros em todas as cidades, o que vem a ser o mesmo - e as manhãs de domingo se tornem todas iguais, vazias em todo o lado, cheias de turistas, tempo, ruas vazias, silêncio e um avião que nos espera quando tudo isto acabar?

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