Portugal tem coisas óptimas das quais quem aqui vive não se apercebe. Duas das menos conhecidas: o Multibanco, um sistema bastante útil para quem tem conta no banco - isto é, a maioiria da população -. E o sistema da Via Verde, muito útil para quem tem carro - se não a maioria da população pelo menos a das pessoas - com o qual se pode pagar as autoestradas (caríssimas, aliás - o que de certa forma se justifica porque estão vazias e andar numa autoestrada vazia paga-se) o estacionamento e em breve um café e um queque integral no senhor Leal.
São coisas que também existem no resto do mundo mas em menos eficaz (com excepção dos queques integrais, que só há na Pastelaria Doce Real e em algumas áreas de Cascais e Estoril).
É claro que há coisas que se vão perdendo, levadas pelo tempo e por esta mania de querermos ser iguais aos outros: polícias amáveis que nos aconselham a conduzir com cuidado quando estamos tão bêbedos que mal nos podemos sentar ao volante (era Dean Martin que dizia "se você conseguir estar deitado no chão sem se agarrar não está bêbedo"?), por exemplo. Ou políticos sérios, com sentido de Estado - sempre tivemos pelo menos um ou dois nos milhares de governos que nos governaram desde o Viriato; agora não há nenhum, como em todo o lado. Até as malas aparecem no aeroporto em menos de duas horas - um problema que só durou trinta anos a resolver (isto assumindo que já está resolvido; não sei. Ontem o meu saco apareceu num instante, mas isso talvez tenha sido devido à sua vontade de ver Lisboa tanto como aos senhores que o manusearam). Há até quem fale em acabar com as touradas (esperemos que limitem esse extravagante desejo à tourada literal; porque se o estendem à metafórica vai-se o país pelo cano).
Mas o importante vai resistindo, e é a isso que devemos prestar atenção: as nossas mulheres, capazes de fazer um homem produzir mais hormonas em dez segundos (o tempo que leva a olhá-las de alto a baixo) do que as estrangeiras em dez minutos (não me refiro a casos individuais, claro); o café, as alheiras, o bacalhau, o rio Tejo, o jardim do Príncipe Real que muito lusa e estoicamente resistiu às mudanças que lhe fizeram há uns anos e já outra vez parece uma ruína, os duzentos e cinquenta mil empregados de café que nos sorriem e nos dizem bom dia e nos servem num instante, o vinho tinto (e não só - outro produto luso. Alguém imagina um americano dizer and not only? Ou um francês et pas seulement? Sim, claro; mas não é a mesma coisa).
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.