2.5.14

Reedição. Está quase.

Um gajo apanha o táxi para ir jantar e suspeita que tudo está excessivamente mal, ou excessivamente bem, quando à entrada do bairro onde o restaurante fica o chauffeur diz "não gosto deste bairro por razões técnico-estratégicas"; um gajo pensa, claro, que não sabe o que são razões "técnico-estratégicas" mas o motorista liga o GPS e leva-o à porta do restaurante sem um ai.

É aí que um gajo pede ao chauffeur de táxi o cartão, porque ele foi porreiro e tudo e etc. e tal e o senhor responde "hoje é o meu último dia de trabalho"; e aí um gajo começa a pensar "será o restaurante bom? Foi-me indicado pelo namorado super-simpático de uma gaja super-bonita (o que só demonstra que Deus não joga aos dados com tudo no Universo) mas será que um gajo vai comer bem aqui"?

A resposta é sim, um gajo vai comer mais do que bem ali; e vai ficar surpreendido no caminho para casa porque passa por uma série de prédios devolutos e a cair de podres e por poucas gajas boas e pensa "em Paris seria ao contrário (um monte de gajas boas e poucos prédios devolutos) mas apesar de tudo Lisboa é melhor sob certos aspectos que Paris". O aspecto Tágico, por exemplo: o Tejo em Lisboa é de longe mais bonito e navegável do que o Sena em Paris; ou o aspecto Síntrico: Lisboa está muito mais perto de Sintra do que Paris de qualquer lugar que se veja, incluindo Versailles. Há, claro, este pequeno problema, pensa um gajo, dos prédios devolutos e dos cús bonitos, proporções inversas em Lisboa e Paris, mas que se f..., um gajo pensa que cús (e Sintras) bem podem ficar para depois, enquanto os prédios caírem e Lisboa for tão insuportavelmente bonita, e os cús das lisboetas tão insuportavelmente redondos, altos e firmes e tudo, ao contrário dos prédios devolutos de Lisboa (a diferença entre "vagabundas" e "bundas vagas" sendo, pensa um gajo, a melhor plataforma para discussões sobre semântica, sintaxe e Lisboa).

Um gajo vem a pé para casa porque em Lisboa se pode vir a pé para casa (em Paris também, mas anda-se duas vidas, ou três) e pensa "o simples facto de poder pensar que penso e ando e estou em segurança é uma sorte, e uma falácia; há muito não penso, e muito menos penso que penso e a segurança é ilusória" e aí pensa um gajo que todas as miúdas do restaurante (e mesmo as senhoras) eram giras, o que até nem é frequente num restaurante e todas (até as senhoras) podiam ser namoradas, ou mulheres, que não ficariam nada mal na moldura para fotografias que um gajo comprou há tantos anos e continua vazia.

Um dia um gajo "ouviu" uma senhora dizer "a minha tasca favorita em Lisboa é o Pap'Açorda" (ouviu entre aspas porque não ouviu, na realidade, leu), e pensou "se o Pap'Açorda é uma tasca eu sou a mulher do Papa" e hoje lembrou-se desta história porque esta tasca pode realmente ser a favorita de quem quer que seja desde que quem quer que seja não seja muito pedante, muito;

Porque o Stop do Bairro é quase uma tasca, quase, e come-se duas vezes melhor do que se esperava e paga-se duas vezes menos do que se pensava (o que demonstra que se pensava mal, e que os preços do Stop do Bairro são correctos) e demonstra também que as tascas sabem evoluir (não é sequer objecto de debate, que se f... as tascas e a respectiva evolução). E aí um gajo pensa que se pensasse seria, diz outro gajo, mais fácil, mais fácil, mais rico, ou pelo menos menos pobre. "Nunca serei rico", pensa um gajo, "enquanto prestar atenção ao cú das senhoras; os cús não enriquecem quem por eles tanto trabalha".

Restaurante Stop do Bairro, rua Tenente Ferreira Durão, 55-A (Campo de Ourique). Fecha às segundas. Não fazem reservas.

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