Estou de saída outra vez, de novo para São Luís. Só acredito quando estiver sentado no avião, portas fechadas e cabo de energia desligado. Até lá não se sabe.
Algumas coisas mudaram: o meu peso, por exemplo. O coiso no sangue. Outras estão na mesma: os dentes - abençoada água oxigenada -, a vontade de voltar para Lisboa (ou pelo menos Portugal). Bebi rios de vinho e tanto café que não sei como consigo dormir todas as noites, comi toneladas de torradas com manteiga, vi amigas e amigos, família e pessoas que conheço, gente que aprecio e gente que me é indiferente. Comi sardinhas, bacalhau, alheiras, chouriço e todos os tipos de
enchidos, lancei um projecto que me é querido e penso noutros para
quando regressar. Talvez a pertença seja isso. Espero que sim. Mais de um mês em Lisboa chega para me fazer ver que nunca serei verdadeiramente daqui. Nem de lado nenhum. Começo finalmente a estar em paz com isso. É como viver com um amor não correspondido, ou com uma doença crónica: só nos chateiam quando nos lembramos (desde que a doença crónica não seja um tinnitus, claro).
Portugal permite-me misturar as três coisas de que gosto: o mar, a cultura e a gastronomia. É isso a pertença: poder ser o que somos. Finalmente, ia acrescentar. Mas não seria justo: vem no tempo certo.
Ou virá, ainda não cheguei. Mas pela primeira vez em muito tempo saio de Portugal a pensar no dia em que regressarei.