12.7.14

Simetrias, ausências

A verdadeira pergunta é sou eu que deixo o mar ou é ele que me deixa?

Da resposta a esta pergunta dependem uma data de coisas. A cor das ameixas que estão por nascer e ser comidas, por exemplo.  A dimensão do carreiro de formigas num determinado quintal. A frequência de levantes e ponientes no estreito de Gibraltar este verão.

Um dia conheci um tipo cujo trabalho consistia em avaliar as probabilidades de um amor evoluir em amizade ou não. Quem lhe pagava eram os actuais cônjuges dos antigos casais.

- Têm medo, percebes?
- Não.
- Pá. A amizade é um sentimento mais forte do que qualquer outro. Já pensaste que todos nós somos capazes de substituir um amor, mas ninguém pode substituir uma amizade? Um amigo que se perde perde-se para sempre.
- Se quisesse mencionar-te-ia um milhão de amores que se perderam para sempre.
- Ainda bem que não queres. Obrigar-me-ias a declamar-te os amores todos que os substituíram.

Que se foda a amizade.

Por exemplo: o mar é meu amigo? Sofre quando não me vê como eu sofro quando passo demasiado tempo em terra? Sofre se não sabe de mim?

A amizade é a forma perfeita da simetria. Ao contrário do amor, que é a sua forma imperfeita.

Nutro pela simetria uma admiração infinita: é a mais elusiva de todas as aspirações humanas. Como terá sobrevivido a tanta ausência?

A ausência é a morte da simetria: não há ausências simétricas.


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