Vamos começar por descrever a noite, como se a noite existisse. Isto é, como se fosse diferente do dia.
Não é, claro: lembro-me da noite como se fosse dia, do dia como se fosses tu a bater-me à porta, da porta que fechámos, abrimos, fechámos.
Pouco me importa do que me lembro: a memória é falsa na melhor das hipóteses. E verdadeira na pior. Que se foda a memória. Que se relembre o teu ventre, do qual tão mal me lembro. Que se relembre os dias de que não nos lembramos.
Que se pense no dia, na noite, no que entre eles ficou entalado, até hoje imóvel.
Pensemos nas imobilidades: não há melhor descrição dos dias.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.