Por uma razão qualquer que desconheço mas acho injusta, é-me mais fácil falar com um comunista ou nazi (passe a redundância) inteligentes do que com um, sei lá, liberal idiota. É uma pena - tem-me custado toneladas de maravilhosos amigos - mas é sobretudo injusto.
É injusto porque - como quem me conhece bem sabe - eu não sou um gajo particularmente inteligente (no que respeita à inteligência imagino-me na faixa baixa da mediania) nem muito culto (idem, mutatis mutandi).
Talvez seja por isso, na verdade: se fosse inteligente conseguiria decerto marimbar-me mais facilmente na patetice, na tolice et al. de outrém. Ser-me-ia tão fácil suportar um idiota útil como um inútil (prefiro estes últimos, naturalmente. É pior a energia aliada à estupidez do que o abulismo).
Isto dito, há uma coisa que suporto ainda menos do que a estupidez, que em grande parte partilho (a cacofonia é voluntária. Esta e as seguintes. São apenas para que quem não concorda comigo possa dizer que nem escrever sei): é a falta de respeito pelas palavras.
As palavras têm uma conotação e uma denotação. Que evoluem, naturalmente - quando eu digo maricas em vez de gay ou homossexual estou simplesmente de má-fé, direito que me assiste como a qualquer outro desde que dele esteja consciente -.
Dizer por exemplo que os israelitas fizeram um genocídio em Gaza - e dizê-lo no primeiro grau - não é simplesmente uma idiotice já de si difícil de suportar. Em Gaza vivem um milhão e oitocentas mil pessoas. Mil e duzentos mortos, dos quais metade pelo menos são combatentes é um horror, é o que se quiser. Mas não é um genocídio (isto ficando pelos números; não vale a pena entrar em pormenores sobre as causas e os métodos de luta de cada uma das partes. Se bem se devesse. Genocídio tem uma definição jurídica, que deve igualmente ser respeitada).
Porque se se pensar - ou, o mais da vezes, disser sem pensar - que em Gaza houve um genocídio, como chamar, por exemplo, ao que se passou no Rwanda em 1994 (oitocentas mil pessoas, incluindo crianças e mulheres, mortas à machetada em três meses. Três meses)? Como chamar ao que se passou na Arménia entre 1915 e 1917 (um milhão e meio de mortos)? Como chamar ao que se passou na Ucrânia em 1932 (quatro milhões de mortos à fome)? O Cambodja (dois milhões)?
É uma imperdoável, intolerável, insuportável falta de respeito. Pelas palavras e pelos mortos. E pela inteligênca, mas isso é outro debate. Do qual, infelizmente, não posso ser parte por falta da dita.
Adenda: além de que seria forçoso reconhecer a absoluta incompetência dos israelitas, se eles quisessem realmente praticar um genocídio. Bolas, os Hutus mataram quase trinta mil Tutsis por dia e com machetes. Nem armas de fogo tinham. Por que raio de carga de água os israelitas mataram tão poucos palestinianos apesar da desproporção de forças? Só pode ser incompetência. Ou então falta de genica, coitados.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.