As cortinas fecharam-se, as luzes apagaram-se, o palco ficou vazio. A ponte ruíu. Sem palavras, um esqueleto avança no deserto. Ninguém o vê, ninguém o ouve.
Gosto do deserto. O calor, a areia escaldante, a solidão. Todas as mortes deviam ser no deserto, para lá das pontes caídas, das vidas vazias, ao sol e ao vento.
A areia cobre as cadeiras de onde assistimos às últimas cenas, as mais cómicas. Ou ridículas. Ou patéticas. As linhas que as separam são ténues, quase invisíveis de tão finas.
O esqueleto ri-se e cai. Nunca mais se levantará. Na plateia ouvem-se solitárias palmas. Alguém ficara para trás.
O vento, a areia, o sol e um riso meio triste meio trocista. A peça acaba como começou. Um esqueleto que ninguém vê, um incêndio, pontes de palavras a cair aos bocados.
Ninguém fala. Nas ruínas o sol ilumina as frinchas pelas quais sai a mentira e entra o silêncio.
O vento, de novo.
Um murmúrio. A morte. A distância amplia o que não se vê: o invisível aparece mais nítido.
No deserto há calor e frio. Há luz mas não há sombras. Há fogo mas não há água. Há solidão e silêncio e dor e verdade. Mas não há mentira.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.