Talvez tenha chegado a altura de falar do desejo. Não sei. Descobres espantado que o desejo te é indiferente. Eugénio de Andrade chamava-lhe Esse cão. Não merece tanto. Desejo é o nome que se dá aos efeitos de um conjunto formado por uma cabeça duas mamas e um ventre. Não há cães metafísicos, cães ideais, cães gnósticos. Há cães e ausência de cães.
No meio há nada.
Enfim, há. Um corpo, um sorriso, um ventre ou duas mamas, uma frase. Mas a isso não se chama desejo, e muito menos cão. Chama-se noite, solidão, o que quiseres. Mas não desejo.
Há quem lhe chame tempo, por exemplo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.