Um corpo deitado na cama, de barriga para baixo, nu; nesse corpo escrevo. Mas não sei o que uso como caneta: se os dedos, se o membro erecto e duro que a vista dessse corpo provocou, os lábios com que o beijo, milímetro a milímetro, os lábios com os quais murmuro as palavras que invocou?
Tento reconhecer o corpo. Não sei quem é. Está de barriga para baixo, não lhe vejo o rosto. Há as nádegas, claro; a curvatura da espinha antes delas, a cor dos cabelos, as pernas. Procuro-lhe o cheiro e reconheço-o: cheira a desejo.
Vejo os cabelos, oiço as breves e sincopadas exclamações com que se exprime. Sinto-lhe os sobressaltos. São iguais aos meus.
Um corpo que não conheço e a hesitação abandonou abandona-se numa cama na qual me reconheço.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.