É preciso imaginares um labirinto cheio de luz. Nele um cego tacteia. Não sabe quando anda para trás, para a frente, para os lados. Anda e tacteia. Um cego num labirinto cheio de luz, imagina.
Por vezes encontra um corpo. Outras uma mente. Imagina: um cego tacteia e encontra uma mente.
Que há numa mente? Nada: ar. Ideias. Desejos. Sonhos. Memórias. Passados. Nada.
Compara por exemplo uma mente com um corpo. Que há num corpo? Pele. Mamas. Um ventre. Mãos. Coxas que te encerram e encerram o cego num labirinto cheio de luz do qual ele nada vê. Imagina: um cego num labirinto feito por duas coxas que o apertam tanto que ele vê. Finalmente ele vê.
Que vê o cego? Duas mamas. Se estiver suficientemente longe. Se não apenas uma. Duas mãos. Idem. Duas vidas. Idem. Ad infinitum: só vês a dobrar quando estás longe. De perto, tudo é um. Imagina um corpo. Imagina uma vida ávida de ti. Imagina um olhar.
Uma vida ávida de ti. Qual a diferença entre essa vida e outra a quem tu indiferes? Um olhar. Qual a diferença entre esse olhar que te olha e te come e te percorre a pele e pede e diz sim e outro que não te vê sequer? Nenhuma.
Cego. Imagina.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.