Ao longe - muito ao longe - via-se um mastro e por baixo um casco e uma ilha. Não conseguia perceber-se se o casco estava na água ou no topo da terra. Enfim, não conseguia perceber-se com os olhos. Conhecendo o sítio sabia-se imediatamente que o barco estava na água, algures entre Bocas e a ilha - Solarte, um nome bonito para uma ilha -.
Solarte. Vou solarte hoje à noite, minha querida. Ou vem tu solarme, se puderes e quiseres. Vamos solarnos? A tua ausência solame. Solarte é bom. E assim por diante.
........
Dia quase perdido. Salvou-se por um cabelo, uma boa notícia que valeu tudo o resto.
É curioso como as coisas se pagam umas às outras. Deve ser a isso que eles chamam uma vida equilibrada.
A mim parece-me uma injustiça, muito mais do que um equilíbrio.
........
Estou a começar a amar o Panamá e isso aterroriza-me. Já tenho sítios que cheguem. Mas a geografia é como as mulheres, não é? Todas diferentes, todas amáveis.
........
Estou a ser assassinado por uma mesa que assassina tudo o que é música. Acho isto um excesso de identificação: mais uma coisa em mim que devia ser trazida para a mediana.
São tantas. E tão pouco o tempo.
........
A hiper-sensibilidade devia ser punida.
Que estupidez: já o é, tanto.
.........
Penso em Nietzsche, que durante tanto tempo pensei ser o único daquela mágica trilogia do século XIX (ele, Marx e Freud) que não se enganou. Hoje sei que não é verdade: Deus não morreu e qualquer dia alguém vai descobrir a base neurológica do complexo de Édipo.
Que pena. Prefiro Zaratrusta a qualquer patacoada sobre os sonhos. E ser o que sou a tudo o resto. Apesar de saber que nunca serei mais do que o que sou.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.