8.4.15

Diário de Bordos - S. Luís, Maranhão, Brasil, 08-04-2015

Não lavei a loiça do jantar. A Frankie's House tem uma senhora da limpeza chamada Josimara - ou, mais correctamente, Santa Josimara - e deixei-lhe a tarefa. Mai-la frigideira do pequeno-almoço, de resto.

O Brasil está cheio de pessoas assim: Josimara, Maciel... Pessoas por quem tenho um infinito respeito e que mereceriam muito mais do que o que têm.

O Maciel, por exemplo. Uma história brasileira: segundo de três filhos "educados sem pai". A mãe veio para S. Luis com eles quando Maciel tinha doze ou treze anos e ele interrompeu os estudos para ajudar a sustentar a família.

Maciel é curioso, só vê programas educativos na televisão: documentários, progaramas de viagens, etc. No dia seguinte comenta-os comigo, faz perguntas boas, inteligentes, de quem quer saber  mais.

É honesto ao cêntimo. Emprestei-lhe dinheiro para tirar um curso de condutor de máquinas - que acabou por não fazer por causa daquele conjunto de coisas a que se chama Brasil - e quando voltei perguntei-lhe como estavam as contas (o dinheiro era pago com as viagens que ele fazia comigo para o estaleiro e depois começou a fazer com o Frank - ou seja, não era um empréstimo. Era um pagamento adiantado). "Devo-te cento e trinta e cinco reais".

Na segunda-feira veio buscar-me ao aeroporto - é de uma pontualidade absolutamente notável em qualquer parte do mundo. No Brasil parece simplesmente um extra-terrestre - . Na véspera tinha passado um programa sobre Cuba e a conversa foi, naturalmente, sobre os médicos cubanos que o Brasil importou, a pobreza dos cubanos, etc.

Acabou a dizer-me "ainda há quem se quer ir embora do Brasil. Podem ir todos. eu fico"

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Eu não fico, Maciel, mas tenho pena.

Oiço Jeanne Lee acompanhada por Mal Waldron neste casarão lindo, bebo o excelente café da santa e planeio o dia - seleccionar roupa a levar para o Panamá, arrumar o resto das coisas, ir à Poeme-se buscar dois livros, dormir  a sesta, beber uma cachaça no Baptista, enviar dois ou três mails de trabalho, escrever meia dúzia palermices, não necessariamente por esta ordem -.

E penso na sorte que tenho.

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