26.5.15

Diário de Bordos - Isla San Andrés, Colômbia, 26-05-2015

Edgar, o electricista ilusão-de-óptica apareceu hoje e montou o alternador. Combinei com o carpinteiro que começa a fazer o pau-de-bujarrona amanhã, e o teremos feito na segunda. Não teremos, mas não faz mal. Mais vale falhar um objectivo do que não ter objectivos. Dei o primeiro passo para que os seals do braço hidráulico cheguem. O vento caiu um bocadinho e a música no Beer Station não está tão má como de costume. Há bocadinho até Jimi Hendrix passaram. Decidi definitiva e irrevogavelmente que daqui a três semanas estarei em Lisboa. Se não forem três são três e meia. Isto é: não vou parar em Cuba, não vou a Cartagena, não vou a lado nenhum. Vou do Panamá para Lisboa, na TAP porque o voo é directo e terei montes de bagagem. Faltam duzentas milhas para isto tudo acontecer. Duzentas milhas. Nada. Amanhã.

Há dias assim.

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Ontem comi uma fondue de queijo. Fondue devia ter meia dúzia de quilómetros de aspas, mas não tem: má, mas fondue. A senhora da Kristhal Delicatessen não percebe muito de queijo mas é bonita, simpática e poitrinée, o que não estraga nada. Não tinha kirsch; paliei com vodka. A fondue é daquelas que já vem feita em pacote, mas não é Gerber.  Ela não sabe a marca e eu não quero saber.

Foi uma grande noite. Discutia situacionismo com um imbecil brasileiro, falava com uma amiga portuguesa e bebia mau vinho chileno. Na Kristhal Delicatessen uma taça de mau vinho custa dez mil pesos e uma dose de Zapata 15 anos oito mil. Zapata 15 anos não é o meu rum favorito, mas está longe de ser mau. Infelizmente só o descobri ao fim de dois copos de vinho, mas enfim. Não é decerto a última vez que vou à Kristhal, se bem seja de certeza a última que lá como fondue de queijo.

Gosto destes preços. No Beer Station uma taça de vinho custa dezanove mil pesos e um mojito treze mil. Fartei-me de rir, quando o empregado me disse o preço. O rapaz (é um tipo novo) também. Rimo-nos os dois. De vez em quando eu perguntava outra vez e voltávamos a rir. Agora pergunto sempre o preço do vinho antes de o beber. Rir não é só um remédio, é também uma boa escola de prevenção.

No Lupita custa seis mil e não é mau de todo. É por isso que lá vou. A comida (Tex Mex) é assim assim. Depois há a música e as televisões, claro. O meu favorito é o Beer Station, por causa da praia e do vento.  E dos kitesurfers. Ontem voavam, era lindo.

Às vezes cozinho a bordo, mas são poucas. O pequeno almoço e o almoço, só. À tarde gosto de sair. Ver um gajo sair da água com a máscara de mergulho, o snorkel e uma Gopro à frente; um pai e uma filha a comer alitas: mão direita numa luva de plástico e na esquerda um telefone portátil. Cada um deles olha para o seu telefone, come, troca uma frase e olha para o telefone, faz uma fotografia do que está a comer, troca uma frase e assim por diante. Gosto particularmente do pormenor das luvas de plástico para comer com as mãos.

Nunca experimentei, mas imagino que seja prático. Feio é, de certeza, mas ele há tantas coisas feias por aí que mais uma menos uma pouco importa. Além de que é para ver estas coisas que gosto de sair.

Antes de me ir embora vou dar uma volta à ilha. Se não me engano são vinte e sete quilómetros. Lisboa Cascais. Já tentei comprar uma bicicleta, mas só as há novas. Não a poderia revender.

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Há dias assim. Agora trata-se de fazer o que se pode para que eles sejam muitos. Ou pelo menos mais do que os outros.

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