Faço mais um jantar de mistela e apercebo-me de que cada vez gosto mais destas misturas imprevistas, fruto do acaso - de vários acasos -. Cada vez tenho mais vontade de as trabalhar, burilar, afinar.
Acompanho-o com um Malbec passável e com a música fundamental, basilar da Ana Cordeiro Reis, uma senhora portuguesa que vive em no Reino Unido - pormenores pouco interessantes - e faz uma música surpreendente. Pelo menos para mim. Depois de jantar deitei-me no cockpit a fumar um cigarro - o vinho não chega para gerir esta merda toda - e ouvir aquela música desfilar. É um travelling sonoro.
O melhor travelling que conheço no cinema é o do final de Providence, de Alain Resnais. O segundo melhor é a música toda da Ana. Pergunto-me "como cheguei aqui?" "Como comecei a gostar desta música?" Não sei. Talvez um dia; por agora mergulho de cabeça na descoberta. Ou mergulho sem cabeça: ela vem depois, ao contrário do que parece quando se vê alguém mergulhar de uma prancha para o desconhecido.
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Silvério não começou o pau-de-bujarrona. Aborrece-me pouco: já o esperava. Aborrece-me muito: quero lidar com alguém diferente. Silvério é-o, na aparência e nos modos. À superfície. Não gosto da superfície das pessoas. Isto é: não me interessa. "Embora os meus olhas sejam..." etc.
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Se calhar gosto desta música porque retrata a minha vida. Não sei. Só superficialmente começo a aceitar que tenho uma vida. Ou melhor: que isto que vivo é uma vida. Maravilhosa, ainda por cima. Não por ser boa, mas por ser a que quero; por ser livre.
Livre: procuro um sinónimo e não o encontro. Liberdade não tem sinónimos.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.