17.5.15

É preciso começar

É preciso começar por dizer uma palavra. Pode ser verdade; ou mar, um dos seus sinónimos. Pode ser luz, vento, as ruas pouco paralelas e pouco perpendiculares de San Andrés. Mas não pode ser amor: não é o princípio, é o fim, o objectivo. Não se pode começar por dizer amo-te, por exemplo, por muito que o queiramos um dia dizer. Mas logo não. Demasiado cedo.

Começa por dizer vento. Força cinco, seis, sete todos os dias, todo o dia. Tudo o que é de mais cansa. Começa por dizer solidão, as duas moedas de uma face. Ou luz: cinzenta, monocórdica, chata. Mar, de que tanto precisas para te reencontrar. O mar não é um bom princípio: é tudo e não se começa pelo todo. Começa-se pela parte, uma pequena parte de cada vez, pé leve. Depois vem a febre, a mão ansiosa, febril; mas só depois.

Azul é a cor da vida; tons de azul: o do céu e o do mar, salpicados de branco aqui e ali. O cinzento não é ausência de azul: simples sinal de que foi provisoriamente morar para outro sítio - o teu espírito, por exemplo; o teu olhar quando olhas para dentro -. O teu futuro se para fora.

Começa por dizer vida; alegria; felicidade; riso; espanto perene. Começa por ti.

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