É preciso começar por
dizer uma palavra. Pode ser verdade; ou mar, um dos seus sinónimos. Pode ser
luz, vento, as ruas pouco paralelas e pouco perpendiculares de San Andrés. Mas
não pode ser amor: não é o princípio, é o fim, o objectivo. Não se pode começar
por dizer amo-te, por exemplo, por muito que o queiramos um dia dizer. Mas logo não. Demasiado cedo.
Começa por dizer vento. Força cinco, seis, sete todos os
dias, todo o dia. Tudo o que é de mais cansa. Começa por dizer solidão, as duas moedas de uma
face. Ou luz: cinzenta, monocórdica, chata. Mar, de que tanto precisas para te
reencontrar. O mar não é um bom princípio: é tudo e não se começa pelo todo. Começa-se
pela parte, uma pequena parte de cada vez, pé leve. Depois vem a febre, a mão
ansiosa, febril; mas só depois.
Azul é a cor da vida; tons de azul: o do céu e o do mar,
salpicados de branco aqui e ali. O cinzento não é ausência de azul: simples sinal de que foi provisoriamente morar para outro sítio - o teu espírito, por exemplo; o teu olhar quando olhas para dentro -. O teu futuro se para
fora.
Começa por dizer vida; alegria; felicidade; riso; espanto perene.
Começa por ti.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.