Hoje fui a Coimbra. É uma cidade muito bonita (pelo menos a parte dela que conheci). Comprei um cinto, duas carteiras, dois toalhetes e três garrafas de vinho, cortei o cabelo e bebi uma quantidade razoável de cafés e aguardentes caseiras por menos do que em muitos países teria pago pelas garrafas de vinho ou pelas aguardentes - as quais não seriam caseiras, ainda por cima -. Fiz um amigo - um escultor de madeira - a quem encomendei um porta-chaves em forma de veleiro; e vi aguarelas fantásticas de um senhor que as pinta para poder beber, objectivo nobre e neste caso bastante bem sucedido. Bebe muito e pinta bem.
Fui de turista. Paradoxalmente cada vez gosto mais de o ser. Visitar lugares estranhos, falar com os autóctones por razões que não sejam de trabalho, ouvir as conversas na barbearia - o que eu gostaria de ser um bom escritor para as poder reproduzir - falar de vinhos com o senhor que mos vendeu, sair de um sítio com vontade de lá voltar.
Coimbra é uma cidade que eu aconselho vivamente; e à qual regressarei em breve, para ir buscar o porta-chaves e falar com os amigos que lá fiz.
A sedentarização deve ser isto, não é?
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Em Lisboa uma barbearia escolheu como estratégia de marketing proibir a entrada de senhoras. Confesso que me é relativamente indiferente; se proibissem a entrada a pretos, judeus, coxos ou idiotas teriam decerto mais problemas.
Na barbearia Irmãos, Rua Direita, Coimbra essa estratégia de marketing não funcionaria: as senhoras vão-se embora de moto proprio.
Permitindo assim uma interessantíssima conversa sobre as relações interraciais em Angola durante a guerra colonial (a média de idade da clientela é igual à dos barbeiros: alta. Eu era um dos mais jovens). Podia ter sido em Moçambique ou na Guiné, claro, mas não. Abordou-se, como convém, o tema por vários ângulos - inclusive o do famosíssimo martelo com que naquele tempo se curavam algumas das consequências menos agradáveis das mencionadas relações -. Já não ouvia falar desse martelo há muitos anos. Foi bom saber que não desapareceu do nosso imaginário.
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Quartas-feiras é dia de mercado em Alvaiázere. O céu vai ter de abrir as portas a mais uma pessoa: a senhora que me vendeu as sardinhas já lá tem um lugar reservado.
Dois: a tremoceira também.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.