23.8.15

Diário de Bordos - Lisboa, 23-08-2015

Ontem fui navegar. Belém - Cascais - Belém. Não sei quantas vezes fiz este percurso desde que em 1974 cheguei a Lisboa. Centenas, largas centenas: um ano tem 52 semanas. Deduzo todos os anos que não estive cá e acresço as semanas em que o fiz vezes.

Ainda me lembro de quando a linha era um conjunto de povoações separadas umas das outras por manchas de verde. Os edifícios encarnados nas Trafaria ao qual aproávamos no regresso de Cascais desapareceram, as manchas de verde entre as vilas também. A Nortada e a beleza mantém-se. Nem os sacanas dos pescadores mai-las malditas bóias conseguem estragar aquilo.

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Anda tudo ligado e cabe-nos a nós ligar o que não está. Navegar com alguém que sabe o que é um oxímoro, uma nemésis e consegue argumentar correcta e sorridentemente um ponto de vista é melhor do que navegar com alguém cujo conhecimento se limita a navegar - se bem isto já seja muito bom, forçoso é reconhecer.

Navegar é bom, conversar também, uma boa conversa num maravilhoso dia de vela ainda melhor. Como dizia a jovem tripulante, ontem "não trabalhamos numa mina". Não, muito longe disso, graças sejam dadas a quem a elas tem direito.

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Regressei a casa de táxi. Já não apanhava um há tanto tempo que não sabia como fazer. A ideia original era apanhar um autocarro e descer onde ele me deixasse (reminiscências dos dias sem dinheiro em Paris: metia-me num autocarro e fazia o trajecto duas ou três vezes), mas isso é difícil num táxi cujo chauffeur está nervosíssimo por causa do relato do jogo de futebol - quarenta mil pessoas, diz o relator numa das poucas frases cujo sentido percebi. Quarenta mil. Ia acrescentar patetas, mas sei que não é verdade e isso ainda torna a constatação mais dolorosa. Quarenta mil pessoas -.

Acabei por alterar o trajecto duas ou três vezes e num supermercado. Podia ter sido pior.

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