Começo por dar a mão à palmatória: não sei por onde começar a história. Creio que ainda não mencionei, pela razão simples e facilmente esgotável de que é banal, de tão frequente: esperávamos um tripulante que se atrasou. M., o dito senhor, que esperávamos e devia ter chegado ontem às quatro da tarde, ou coisa que o valha. Depois o avião atrasou-se e a chegada mudou para as sete e meia. Até nada se não banalidades.
Depois o avião atrasou-se ainda mais e ele teve de passar a noite em Barcelona e a chegada ficou para as três da tarde. Depois o avião atrasou-se eu decidi ir fazer bancas (meter gasóleo ou combustível numa embarcação, para quem não sabe), esperar por ele no pontão do gasóleo e arrancar logo a seguir.
Tínhamos acabado de pôr o barco num canto do pontão quando ele me telefona.
- Luís, a companhia perdeu as bagagens. - Larguei numa gargalhada da qual o rapaz - um jovem biólogo marítimo com a cara bonita e os modos suaves de genro ideal - ainda não se recompôs. Quando acabei de rir perguntei-lhe se a companhia sabia ao menos onde está o saco.
- Está em Barcelona.
- Ok, vem para bordo, eu vou voltar para a marina onde estava (a qual não tem gasóleo, por isso preciso de ir para a outra).
Tenho sorte com a tripulação, com o barco, com o armador, com o tempo. Não são um dia ou dois perdidos que me farão mudar de opinião.
Começa por que seria necessário poder-se perder tempo em La Coruña. Não é.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.