Em Colon há um louco no céu com umas tampas enormes que ele mexe de forma aleatória. Excepto talvez a da manhã e a da noite: está escuro, escuro de breu. Qualquer coisa se passa lá em cima e está dia. Como o vento é nulo e a humidade altíssima a luz é ainda mais densa e alaranjada de que a de Lisboa. Tudo fica com um relevo muito marcado, quase surpreendente, como quando estamos a ver um filme em três D sem os óculos e depois os pomos. Ou então ao contrário: é dia, alguém mexe uma tampa e fica noite.
De súbito uma outra tampa mexe-se e desata a chover. A tampa volta e com ela o sol. E assim de seguida.
Hoje o senhor das tampas do céu (são as minhas favoritas; das terrenas já tenho que chegue) estava particularmente animado: num quarteirão chovia a rodos e três ruas ao lado estava um sol de verão algarvio; mais quatro ruas e chovia; mais duas e o sol ficava insuportável de quente. Foi assim até às eclusas, momento em que tudo ficou solenemente cinzento.
Agora chove a potes. O barbecue do Joachim vai ser adiado de novo, aposto.
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"A susceptibilidade é a saudade daquela batalha que ainda não ganhámos", diz-me T. Que descrição tão perfeita da susceptibilidade, tão peganhenta como a saudade e tão estúpida (às vezes) como as derrotas (algumas).
Ontem tive um acesso dela. Espero que a saudade se vá e a batalha não termine por uma derrota.
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Com um bocadinho de sorte largo amanhã. Com a habitual largo quarta. Primeiro vou a Bocas buscar as coisas que ainda lá tenho e depois rumo a St. Maarten. Vai ser bom. Quinze dias de mar numa embarcação soberba com uma boa, se bem inexperiente tripulante.
As qualidades humanas são mais importantes do que a experiência: esta adquire-se; aquelas não, a partir de certa altura.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.