18.11.15

Diário de Bordos - Errol Flynn Marina, Porto Antonio, Jamaica, 18-11-2015

É sempre assim: a grande vantagem de tudo estar mal é que tudo fica bem de repente e ao mesmo tempo.

Ou pelo menos tudo de repente parece poder correr bem. Como quando o sono chega subitamente no meio de uma insónia, ou uma mão que julgávamos presa nos toca e nos diz sim.

M. é um jovem russo que está em Porto Antonio com o barco arrestado por causa de uma tonteria qualquer da Alfândega jamaicana, a mesma que me impôs uma multa absurda de oitocentos e trinta e quatro dólares. A dele é de cinco mil. O rapaz (tem vinte e quatro anos) é de uma educação irreprensível, simpático, prestável (é no computador dele que tenho escrito quase todas estas crónicas, procurado tripulantes, vagueado pelo Facebook).

Nunca lhe falei em vir comigo para St. Maarten porque sabia que ele estava a tentar resolver o problema do barco dele e parecia-me injusto pôr-lhe o meu em cima. Mas ontem fi-lo, de passagem e como quem não espera nada. "Devias era vir comigo para St. Martin". Sorrimos e continuámos uma daquelas conversas sobre nada que são o apanágio de marinheiros presos ao bar de uma marina por causa das autoridades, das avarias, de tripulantes, do tempo ou do que quer que seja.

Hoje veio ter comigo: está a pensar seriamente tirar do barco tudo o que pode e deixá-lo aqui. Vai dar-me uma resposta definitiva amanhã. Eu tenho de esperar até sexta pela decisão das autoridades e de qualquer forma quero estar cá no fim-de-semana porque há um mercado com comida boa e fresca (as lojas de porto António são fracas, para ser simpático).

Entretanto hoje avancei com as bombas. Amanhã devem estar funcionais. Os rizos são coisa para uma hora. Nas coisas que o M. traz do barco estão as que eu precisava de comprar.

Ainda é cedo para cantar vitória e estas linhas não são uma celebração precoce: são a manifestação de como me sentirei quando puder sair daqui. Vai ser de repente, vai ser assim.

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A Jamaica é muito mais pobre do que eu pensava. Tem um PIB per capita de cinco mil e poucos dólares. O de Antigua, para comparação é de treze mil e o do Brasil doze mil.

O país está bastante endividado e o Governo encontrou a solução mágica: aumentou os impostos. Aí reside a resposta à minha pergunta do outro dia. O país é pobre, as pessoas miseráveis e o governo aumenta os impostos. José, o dono do bar está a pensar ir-se embora. Ele é cubano, pode ir. E quem não pode?

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Porque é que a direita perdeu a batalha da comunicação? Não sei. José diz-me, a respeito do aumento de impostos: é isto que está errado no capitalismo.

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De repente vejo-me em modo largada, o meu favorito. Já só falta a chuva parar.

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