31.12.15

Diário de Bordos - Simpson Bay Marina, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 30-12-2015

Com a dose de rum Mount Gay a três dólares, o espaço praticamente vazio e sem iates atracados  (hoje há um), a música que sem ser boa não é abominável o Soggy Dollar é - é forcoso reconhecer - o melhor bar de Simpson Bay.

Tudo isto é temporário, claro. Mas lembram-se do fim daquele filme de ficção científica do Ridley Scott, quando o herói se apercebe de que está apaixonado por um robot que tem os dias contados e pergunta "Quem não tem?"

Pois aqui é a mesma coisa. O que dura para sempre? "Nada", responde Willie Nelson, "excepto para sempre e tu, meu amor".

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Hoje vi J. no Ace. A recuperação é difícil e está à espera do resultado de uma análise.

A puta perdeu.

Por enquanto, eu sei. Mas cada dia é uma vida. E enquanto ele puder ver esta laguna da sua casa uma vida que vale muitas outras.

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Tive notícias da Grécia. Está quase. No meu imaginário Atenas é igual a uma passagem por Lisboa.

Que tanto eu preciso de uns dias ali. Costumo dizer que não sou um viajante, sou um nómada. Terão os verdadeiros nómadas um laço com um lugar como eu tenho com Lisboa?

Não sei. Que mais me falta: as ruas ou as pessoas que nelas andam? Os sítios ou as pessoas que os frequentam? As casas ou as pessoas que nelas vivem e nelas me acolhem como se eu fosse da casa, da rua, do sítio?

O que me falta mais: Lisboa ou as pessoas de Lisboa?

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Não escrevo para contar como foi, mas sim para me lembrar do que foi.

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Gosto desmesuradamente de St. Martin.

Mas já aqui estive. Como traduzir isto? Seria desonesto dizer que conheço muito bem. Não é isso.

É que já aqui estive e estou agora e a Atenas não vou desde 1983, com a excepção de uma breve passagem há dez ou onze anos.

Tenho vontade de lá voltar e beber cafés e brandies na Plaka e comer pita slouvaki e tzatziki (grafia não garantida) folhas de vinha recheadas e ir à Acrópole e merdas assim, primárias.

Nunca mais verei a minha americana. Muito menos o tunisino, espero que tenha morrido no fogo do inferno. Mas vai ser giro voltar lá.

Com sorte ainda conseguirei falar com um grego ou dois e perceber como é que eles lidam com o aldrabão do Tsipras (é tão raro alguém mentir no bom sentido que deve ser estudado).

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Aconteceu há uns dias. Devo-a à tripulante, que não usa soutien nem para correr, coisa que faz dia sim dia não durante uma hora: descobri que gosto muito de mamas mas têm de ser cultas e ter sentido de humor.

Mamas irónicas. As de primeiro grau seduzem-me pouco.

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Spiritualized, João. E depois a Angelique Ionatos com a Nene Venetzanious.

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De repente lembro-me do Reid's na Madeira. Talvez. O Reid's não tem Mount Gay e se tiver não o serve num copo de plástico e não custa três dólares e a música e no bar não estaria uma rapariga vulgar.

Mas a vista também é muito bonita.

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É tão bom escrever. Talvez um dia o faça.

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Isto tudo dito continuo a preferir o lado francês. A vulgaridade temperada pela civilização é preferível à vulgaridade em estado bruto.

(Além disso há menos).

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O S. M. está quase pronto. Ainda bem. Estava a tornar-se pesado, como uma miúda que nos envia SMS ou nos pergunta como estamos de cinco em cinco minutos.

A partir de agora só lhe faço festas.

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