Levantei-me eram duas e meia da tarde. Sinto-me como se tivesse estado dentro de uma secadora de roupa. Vim ao 101 Kruda beber uma Margarita. Mal não faz e talvez faça bem. Ao amor-próprio faz de certeza. Já não posso olhar para cerveja, que ainda por cima no México é uma merda. Não percebo o que vêem na Corona. Gosto da Índio mas não costumo bebê-la: não sei porquê meteu-se-me na cabeça que é mais cara. Quando a bebi foi oferecida, deve ser por isso. A Margarita do Kruda é boa, mas hoje não há Only You, só há americanos. Dois casais: uma gorda e uma obesa, com um corpo horrível, disforme. Os homens são mais magros, mas estou-me nas tintas. É o meu bar favorito aqui: pequeno e simples. Tratassem melhor da música e seria uma maravilha, apesar do barulho da rua.
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Quinta-feira vou-me embora. Chego Sábado, depois de um périplo por Cidade do México (quinze horas de escala), Nova Iorque (oito) e Casablanca (seis). Pelo menos a travessia do Atlântico é com a Royal Air Maroc. Antigamente era uma boa companhia, tinha um bom serviço. Não me lembro se servem álcool. Creio que sim. Que se lixe. Bebo cada vez menos nos aviões, de qualquer forma.
Não tarda vou deitar-me outra vez. Não que o corpo o mereça, não merece, mas estou farto de me sentir um farrapo. Ao menos na cama estou bem. O dormitório é grande, não está atafulhado de camas e agora está quase vazio. Por quinze euros é difícil ter melhor.
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Está calor, mas só sinto o da febre (que não tenho. É raro ter febre. Excepto quando tinha as crises de paludismo, longe vá o agoiro). A verdade é que odeio estar doente. Parece-me uma traição. Se ao menos tivesse alguém para tratar de mim... Assim um gajo sente-se miserável, entregue a forças que não controla e não tem o lado positivo da doença, que é poder abandonar-se, poder reclamar audivelmente.
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Em Lisboa vou descansar. Aqui não: há demasiado ruído. É como querer dormir no meio do ringue.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.