Última noite em Cabo. Deixo-me docemente pairar (para quem não sabe: há uma diferença entre pairar e derivar. Esta é involuntária, aquela não). Não comi tacos, a melhor coisa que quem não tem taco pode comer aqui e não bebi (só) cerveja. Mais uma vez é preciso relativizar: os montantes em causa são ridículos. Pouco me importa: atenho-me às porcentagens como um preso injustamente à esperança. Bebo shots de tequila no Kruda porque ser nómada, já por aqui o disse, não é não ter casa. É ter uma casa onde se está.
A sedentarização está à esquina. Chama-se Nómadas Anónimos, Café Slocum ou outra coisa qualquer. Querer fechar uma vida num nome é tão digno de lástima como de escárnio. As palavras não chegam nem aos calcanhares da vida, apesar de serem o seu suporte.
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Mesmo em Cabo consigo descortinar um pouco de México e ser aceite. Não se pode ser mau em tudo, por mais que se tente.
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Perguntava-me a Clarisse recentemente se não sinto a falta de uma casa. Não. Sim: sinto falta dos meus livros e da minha música; isso é sinónimo de casa.
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Vantagem dos números sobre as palavras: não se pode insultar ninguém com eles.
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Abraham nasceu, diz-me, "num berço de oiro. Os [seus] avós tinham muitos terrenos". A terra é fonte de riqueza. O mar não. Prefiro o mar, apesar de tudo. Não há dinheiro que substitua a vida.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.