Regresso ao ponto de partida: Hospital S. Francisco Xavier. A sala de espera das urgências tem Wifi e este é potente. Já telefonar é outra história; falar com um médico outra ainda. Em 2006 aconteceu-me a mesma coisa, mas estava no Brasil. Queria falar com um médico do Egas, que era então o meu hospital. Levou uma semana e duas fortunas - quem conhece o Brasil sabe o preço das telecomunicações, ainda para mais em roaming -. A história dos telefones é gira, mas pouco interessante. Acontece em todas as áreas de todos os departamentos de todas as instituições: importa mais o que parece do que o que é. Um gajo leva para casa um papel com quatro números de telefone e dois de fax, mas passa mais de dez minutos até ter alguém do outro lado da linha; e quando fala é para ouvir que o melhor é ir ao hospital.
Um gajo vai, claro. Por muito que deteste hospitais e estar doente e pense que um telefonema de dois minutos com um médico talvez resolva o assunto.
Enfim, ¡qué vaya! Estou de novo neste magnífico observatório de antropologia, sociologia e psicologia que é a sala de espera das urgências de um hospital, relativamente convencido que não tenho nada de grave excepto o facto de o telefone estar quase sem bateria.
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Verdade que os últimos dias foram de disrupção. Uma avaria na carcaça e o mundo pára, hesita, gira para um lado, gira para outro... A culpa está na transição, claro. Na mudança. Hoje pus os relógios todos à hora: fiz uma lista dos comboios todos que andam por aí perdidos, não fossem eles perder-se de vez.
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Tirando este pequeno incidente tudo bem: o país continua igual a si próprio. Um gajo telefona para quaquer sítio e dizem-lhe para mandar um mail. Manda o mail; não respondem; volta a telefonar; dizem para reenviar o mail; reenvia o mail e acaba a explicar tudo ao telefone. Dizem que estão muito ocupados. Pudera. Uma coisa que se pode resolver em cinco minutos leva três semanas só para voltar ao estádio em que pode ser resolvida em cinco minutos.
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Um autor de ficção que procure nomes para as suas personagens não perde nada em passar umas horas numa sala de espera de um hospital.
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Mais um atentado terrorista na Turquia. Não sei se foram os curdos se os islamistas. Tinha uma enorme simpatia por aqueles, mas ser forçado a fazer este género de associações dissipa-a por completo.
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O debate político português é uma espécie de concurso para saber quem é pior: se os nossos filhos da puta se os do outro lado da barreira. Um gajo recebe um subsídio indevido. Em vez de se discutir os subsídios e o governo que queremos contrapõem-se os gajos do outro governo que fizeram a mesma coisa, ou semelhante. Encolhem-se os ombros, diz-se "São todos o mesmo" e continua a votar-se no clube de sempre.
Entretanto "os mesmos" vão continuando a servir-se tranquilamente, certos de que os sócios do seu clube estão mais preocupados em encontrar culpados no clube oposto do que em punir os do deles.
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"Encontrei o amor da minha vida", diz um senhor no Facebook. Ainda estou à espera de ler "Encontrei o amor da minha morte", que é o que deviam dizer. "Encontrei uma pessoa que me fará morrer se não me amar".
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Exames e mais exames. A noite continua e a mágica é igual: dois mundos paralelos, o exterior e o interior de um hospital público.
Com a notória excepção das senhoras que tentaram tirar-me sangue. Conseguiram, mas fizeram aqueles gajos que abrem buracos nas ruas com martelos pneumáticos passar por estátuas de sal.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.