29.6.16

Diário de Bordos - Lisboa, 29-06-2016

Isto começa a ficar difícil. Passa das duas e meia da manhã e faz mais de hora e meia que espero a "análise do TAC". Talvez o termo não seja análise. Não me lembro. Estou morto de sono e de frio, cansado e os múltiplos furos resultantes das tentativas de extracção de sangue ainda doem. Tenho um cateter enfiado na veia.

Sentei-me na zona mais afastada da sala de espera, agora muito mais vazia e espero. Um grupo de ciganos discute futebol, duas jovens mulatas falam e sorriem sem parar desde que chegaram há mais de duas horas e um senhor branco faz uma cara de esfinge.

As urgências acalmaram bastante, mas apesar disso continuamos a esperar. Os nomes são agora chamados a um ritmo muito mais lento. Eu tento não abrir demasiado a boca quando bocejo por causa da dor.

Parece-me que o que me trouxe aqui melhorou mas não tenho a certeza. Não tarda meto-me num táxi e vou para casa. Venho buscar as análises do TAC amanhã, daqui a um ano ou antes de ir a enterrar. São-me completamente indiferentes.

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Foi exactamente o que fiz. Vim-me embora. Expliquei cordatamente (pelo menos a mim pareceu) à médica que ia para casa porque estava cansado, cheio de frio, farto até aos cabelos.

Seguiu-se uma pequena discussão a cujo teor poupo os leitores, coitados. Os resultados do TAC apareceram como por milagre - afinal não era deles que estava à espera mas sim da médica que me recebera e fizera todos aqueles exames -. A colega desta, com quem discutira os fundamentos da minha decisão estendeu-mos como se me estivesse a dar uma brasa.

É em casa que acabo este post. O TAC está em mediquês profundo mas parece-me que não tenho nada que não tivesse já.  A enfermeira tirou-me o cateter e o último penso.

Amanhã é outro dia e eu outro homem.

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