Aqui estamos, Lisboa, tu e eu de novo tão iguais e tão diferentes. Tu mudas de vida, és uma cidade aberta, cheia de turistas e de poesia, de gosto e de beleza. E de buracos que aí vêm eleições, mecanismo infalível para despertar os imbecis e medíocres que de ti se aproveitam e sem ti nem um galinheiro mereciam. Verdade seja dita: tu recebe-los, resistes, deixa-los passar e sorris quando finalmente desaparecem.
E eu como sempre teso e optimista, a sair de uma vida para entrar noutra, a calcorrear-te como se nunca daqui tivesse saído, árvore andante como aquelas árvores dos mangais que usam as raízes para se deslocar.
Somos um velho casal, Lisboa: já não nos enganamos um ao outro. Conhecemo-nos os truques e as manias, as ruas, vielas e atalhos, os terrenos baldios e os outros. Somos um do outro apesar das separações e resistimos a todas as chegadas, sejam elas de passagem ou de sonhos.
Agora nós, Lisboa. Outra vez.
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Lisboa recebe-me sumptuosa e generosamente, como se quisesse agradecer-me a decisão de por aqui ficar e se estivesse nas tintas para a falta de dinheiro.
Está ela e eu também: amanhã há mais. Mais dias, mais dinheiro e mais dias sem ele. Mais ideias e projectos. Outra vida e outras vidas.
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Jazz no Tati, poesia no Povo: como duvidar de um futuro assente nestas fundações?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.