Um homem procura, perde, ganha, empata, bate com a cabeça nas paredes, parte paredes e parte a cabeça, encontra saídas e mete-se em becos sem elas, encontra quem o ama e perde quem ama, bebe de mais ou de menos e come idem, tem dias lindos de morrer e morre por dias feios, é feliz, infeliz, triste, alegre, melancólico, empatiza, antipatiza e simpatiza, descobre saídas dos becos e portas onde antes só via paredes.
Um homem é um homem, não é um gato.
Um homem sofre, des-sofre, maravilha-se com uma paisagem, um seio, um sorriso, um livro ou um poema, sabe que vai morrer e sabe que tanta tristeza e tanta felicidade não morrem, que um dia de sol vale dez de chuva e um de chuva dez vidas, duvida de si, dos outros, do sol e dos planetas e sabe que um bom picante num guisado trata todas as dúvidas, tal como um dia de vento trata azias, reumatismo, dores nos ouvidos, problemas de articulações, unhas encravadas, vinho estragado ou intoxicações alimentares.
Um homem não é um gato. É um homem.
Um homem sabe que não há melhor mistura de cores do que o azul marinho e o azul celeste, mas por vezes cede e aceita um bocadinho de verde entre os dois. Um homem gosta de mulheres, de uma mulher e de tudo o que fica entre elas.
Um homem é frágil, porque nada é mais resistente do que a fragilidade de um homem.
Um homem acerta, falha, falha bem e acerta mal, é deus, diabo, anjo, anjinho e tudo o que há no meio, é bom, mau, mediano, tem sorte, azar e azar e sorte ao mesmo tempo, aprecia o silêncio e gosta do barulho, sabe que hoje ontem e amanhã são tão diferentes entre si como ele é do que era ontem e será amanhã, sabe que hoje o mar está calmo e amanhã não, que o sorriso daquela mulher vale as horas todas do mundo ou não vale um segundo, que tudo é, não é e é outra vez como num carrossel. Um homem sabe que o bem e o mal são as duas faces da moeda desequilibrada que lhe saiu na rifa e que querer mudar essa moeda ou mudar-lhe a face é como querer escolher o tempo que vai fazer amanhã.
Um homem é um homem. E é tudo o que um homem é.
(Com um obrigado grande ao R. A., que por vezes me faz acreditar em sonhos).
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.