Saí do Forte e Feio em estado de choque. Tentei atropelar pelo menos duzentas pessoas no caminho de regresso, mas lembrei-me a tempo de que:
a) As ciclovias em Portugal são feitas para as pessoas que não gostam de calçada - aparentemente a esmagadora maioria - e não para as bicicletas;
b) Se atropelar alguém magoo-me tanto ou mais do que o atropelado.
Ou seja: acabo no refúgio de sempre, o Bacchus Bar. O senhor Artur - já não tenho dúvidas de que ele é um senhor e era quem me fazia os cocktails há quarenta anos - quantificou, com a gentileza que lhe é inata e característica, o espólio do outro: "quatro ou cinco euros".
Por isso não vale a pena chatear-me e muito menos chocar-me.
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Enjoar é chic. Demonstra que não somos lobos nem somos do mar e sim seres urbanos, civilizados, adestrados que compraram um barco porque ter um barco é chic e enjoar é - a fortiori - ainda mais chic.
(O leitor atento terá descoberto aqui uma incongruência intra-textual. As pessoas chics não sabem o que a fortiori quer dizer e nunca utilizariam o termo. Pelo menos os meus BCBG. Talvez os de outros o conheçam. Não sei).
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Fui jantar ao Forte e Feio:
a) "As sardinhas hoje não estão aconselháveis". (Aqui comi as melhores sardinhas da minha vida. Aprecio a honestidade do grelhador);
b) "Meio frango" é uma anedota nouvelle cuisine. O frango era simultaneamente raquítico e anão. Um inteiro não teria alimentado uma adolescente anoréxica. Estava bom, muito bom, tão agradável à vista como ao paladar, apesar de a ambos ter parecido uma miragem;
c) As batatas fritas são uma merda. Raramente como batatas fritas (cf b) );
d) Nunca mais cá volto em Agosto, excepto se for Domingo e tiver pensado nele como sítio para levar uma jovem senhora cuja aprovação espero merecer.
De modo espero tranquilamente que a garrafa de vinho se acabe (costumam acabar-se sozinhas) para telefonar ao Bacchus e saber se está aberto.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.