31.8.16

Diz criminalizar, diz.

Portugal conseguiu descriminalizar o uso de drogas, sejam elas leve ou pesadas e acho muito bem. É aliás tema de conversa e admiração por esse mundo fora. Pena que não se fale tanto de outras descriminalizações que o nosso bem-amado país fez com um sucesso indescritível, se bem mais escondido.

Falo, por exemplo, da descriminalização do estacionamento ilícito. Qualquer condutor sabe que pode deixar o automóvel em qualquer sítio - exceptuando, naturalmente, os que são inacessíveis ao veículo, como o topo das árvores e os corrimões das famosas escadinhas de Lisboa - sem que por isso seja punido. Ou da discriminalização do desrepeito pelos sinais de trãnsito: encarnado, verde ou laranja têm o mesmo valor operacional (ao contrário de outros países em que os condutores páram com os sinais vermelho ou laranja e avançam com o verde). Também se discriminalizou a condução na faixa da esquerda.

(Entretanto hoje ficou a saber-se que a Polícia Marítima, esse epítome da coragem, bravura e desprezo pela vida apreendeu duzentas e dez bolas de Berlim. Acho que as nossas autoridades deviam dar a conhecer estes feitos aos investidores que se inquietam com as constantes mudanças na legislação, por exemplo: contra as bolas de Berlim marchamos sem hesitar. Em defesa da saúde pública o nosso rumo é o mesmo. Ainda o ano passado, por exemplo, foram apreendidos cinco quilos de sardinhas a um senhor de setenta anos).

Adenda - hoje foi igualmente conhecido que os hospitais públicos devem uma fortuna aos fornecedores, mas impressionados com a nossa luta contra as bolas de Berlim e as sardinhas os investidores não atribuirão obviamente a isso grande importância. Eles compreenderão que saúde pública não se compadece com facilitismos.

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