27.9.16

Déjà vu à voir

Fala-se muitas vezes na sensação de déjà vu. Se bem me lembro até o Sigmund falou nisso. Não me lembro do que disse. Nunca fui grande fã da psicanálise, forma sofisticada e cara da superstição - outra coisa sobre a qual ele falou, se a memória não me falha -.

Que se foda a memória, digo sempre que o termo vem à baila. Ou quase, pelo menos. Passa a vida a foder-nos, a memória.

Já o fenómeno contrário me interessa muito mais. Isto é. Passo a explicar. Foi assim:

Hoje passei por paisagens que me fascinaram e pensei mas já passei aqui tantas vezes e não as vi como é possível? Estava sentado no bar do comboio, as paisagens desfilavam rápidas como naqueles jogos em que temos de memorizar a posição de uma carta ou uma sequência de números ou o nome das miúdas que a seu tempo amámos. E foi assim que me ocorreu como é possível estar a ver isto pela primeira vez quando já aqui passei tantas vezes, tantas?

Que diria Sigmund? A que estranho fenómeno inconsciente associaria ele este de se ver pela primeira vez aquilo que se viu tantas vezes? Como, sei lá, descubro hoje um corpo que já vi nu vinte vezes? Como vejo hoje pela primeira vez o que ontem vi pela milésima? Como vejo agora de repente o futuro no que vi ontem feito passado?

Amanhã olharei para hoje e verei o depois de amanhã. Amanhã olharei para depois e verei o que não vi hoje.

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