16.9.16

Diário de Bordos - Lisboa, Portugal, 16-09-2016

Dias cheios, cheiíssimos, que a falta de computador e de vontade de escrever no telefone esvaziam.

Como se não se tivesse passado nada, como se um dia este futuro que nestes dias se constrói, define, toma forma cores e cheiros vá parecer ter nascido do nada.

Dias de laudas à vida e a Lisboa, terra mãe, madrasta, amante, puta que se deixa foder com prazer, mulher que fode com mais sentimentos do que técnica.

Dias entrecortados por uma breve viagem ao Porto, cada vez mais bonito e vivo; e uma passagem nauseante em Obidos, felizmente breve e de raspão. Gosto do turismo mas detesto turistas.

Cada vez suporto menos tudo e todos os que estão longe de mim, ainda que ao lado. E gosto mais de quem está perto, mesmo que longe.

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Acabo Alentejo Prometido, de Henrique Raposo. O único defeito que lhe vejo é o malfadado acordo: não há direito de se estragar uma prosa tão bonita, limpa e escorreita com aquele crime ortográfico. De resto o livro é esplêndido. Procuro as causas do alarido que provocou e não as encontro. Espero que quem protestou contra aquele retrato corajoso, bem focado, informativo e desapaixonado esteja agora a roer-se de vergonha. Não está, de certeza. Só a inteligência se arrepende. A estupidez nunca o faz.

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Amanhã vou buscar o computador. A vida reatará o seu curso, como se as comportas da barragem deixassem passar palavras e não horas (ou minutos, que os não há de mais vazios).

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O nosso governo encadeia disparates uns atrás dos outros, como um epiléptico a tentar comer a sopa durante um ataque da doença. Aquilo é incontrolável. Tento não falar de política neste coitado deste blog, já tão massacrado pelas faltas de jeito e de interesse.

Mas o que este primeiro-ministro e respectivos acólitos fazem não releva apenas da política. É caso de perturbação mental; de tragédia, literatura ou - mais provavelmente - de circo.

Infelizmente na arena estamos nós e não os palhaços e malabaristas que nos e se governam. Em breve entrarão os leões em cena; os artistas estarão a salvo e nós na travessa que será servida aos bichos.

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