A ideia de que no dia internacional da poesia começa uma etapa poética da sua vida é em si mesma poética. Ele é reconhecidamente um péssimo poeta, excepto se se considerar que um dia pode ser um verso, uma hora uma vírgula e a manhã, tarde, noite, madrugada estrofes.
Ainda assim o poema seria mau, suspeito (tenho fortes razões para isso, aliás). Mas talvez fosse menos mau. Talvez se pudesse considerar, sendo a vida um poema, que é um poema sem fim - a morte seria, a ser assim, apenas uma repetição (um replay, diríamos há alguns anos) uma repetição silenciosa e estática do poema da vida de cada um -.
Imagine-se um poema que começasse por "um marinheiro mete-se pela terra adentro". Qualquer pessoa de bom senso interromperia a leitura ali, logo ali, no coloquialismo "adentro", como se o navio do marinheiro tivesse batido numa baleia adormecida (isto é um pleonasmo. Se a baleia estivesse acordada a embarcação não lhe bateria).
Deixemo-nos de pormenores técnicos. Um marinheiro mete-se pela terra adentro, poeticamente. Pelo menos parece-lhe e como o faz no dia da poesia deve ser.
- Como classificar este tipo de poesia?
- Poesia da vida, poesia dos dias, poesia da acção, poesia dos caminhos de ferro (expressão que o autor / vivente prefere a comboio)?
Pouco importa, na verdade. É impossível ler esta poesia: vista de fora é como se lhe faltassem dois terços (pelo menos) dos caracteres.
Espera. Estou a dispersar-me. O poema faz sentido, mas tu não o podes ler. Pouco interessa: um marinheiro escreve um poema sentado num comboio não porque o esteja a escrever mas porque o está a fazer. A viver. A construir. O ritmo é-lhe dado pelo ruído dos boogies. O marinheiro transforma-se em hobo, esses seres que tanto o fizeram sonhar numa fase anterior, já antiga do poema.
O marinheiro não sabe o que o espera, mas isso não o inquieta: está habituado a escrever os poemas linha a linha, verso a verso, palavra a palavra, sem lhes contar as sílabas ou se preocupar com as rimas.
É assim. No Dia Internacional da Poesia um novo poema começa a escrever-se. Poético, não? Mais - pelo menos - do que ler poemas já escritos por poetas que morreram sem perceber o principal poema, isto é: a vida.
A vida, o cheiro a sangue vomitado, o ritmo dos boogies nos carris e os hobos, esses poetas desconhecidos.
E os marinheiros, naturalmente. As mamas, os ventres e os olhares com os quais o marinheiro - ou nos quais? Nos - o marinheiro vai viver o poema, escrevendo-o para quem nunca o conseguirá ler.
No Dia Internacional da Poesia um poema começa, terra adentro, corpo adentro, futuro adentro.
Ainda assim o poema seria mau, suspeito (tenho fortes razões para isso, aliás). Mas talvez fosse menos mau. Talvez se pudesse considerar, sendo a vida um poema, que é um poema sem fim - a morte seria, a ser assim, apenas uma repetição (um replay, diríamos há alguns anos) uma repetição silenciosa e estática do poema da vida de cada um -.
Imagine-se um poema que começasse por "um marinheiro mete-se pela terra adentro". Qualquer pessoa de bom senso interromperia a leitura ali, logo ali, no coloquialismo "adentro", como se o navio do marinheiro tivesse batido numa baleia adormecida (isto é um pleonasmo. Se a baleia estivesse acordada a embarcação não lhe bateria).
Deixemo-nos de pormenores técnicos. Um marinheiro mete-se pela terra adentro, poeticamente. Pelo menos parece-lhe e como o faz no dia da poesia deve ser.
- Como classificar este tipo de poesia?
- Poesia da vida, poesia dos dias, poesia da acção, poesia dos caminhos de ferro (expressão que o autor / vivente prefere a comboio)?
Pouco importa, na verdade. É impossível ler esta poesia: vista de fora é como se lhe faltassem dois terços (pelo menos) dos caracteres.
Espera. Estou a dispersar-me. O poema faz sentido, mas tu não o podes ler. Pouco interessa: um marinheiro escreve um poema sentado num comboio não porque o esteja a escrever mas porque o está a fazer. A viver. A construir. O ritmo é-lhe dado pelo ruído dos boogies. O marinheiro transforma-se em hobo, esses seres que tanto o fizeram sonhar numa fase anterior, já antiga do poema.
O marinheiro não sabe o que o espera, mas isso não o inquieta: está habituado a escrever os poemas linha a linha, verso a verso, palavra a palavra, sem lhes contar as sílabas ou se preocupar com as rimas.
É assim. No Dia Internacional da Poesia um novo poema começa a escrever-se. Poético, não? Mais - pelo menos - do que ler poemas já escritos por poetas que morreram sem perceber o principal poema, isto é: a vida.
A vida, o cheiro a sangue vomitado, o ritmo dos boogies nos carris e os hobos, esses poetas desconhecidos.
E os marinheiros, naturalmente. As mamas, os ventres e os olhares com os quais o marinheiro - ou nos quais? Nos - o marinheiro vai viver o poema, escrevendo-o para quem nunca o conseguirá ler.
No Dia Internacional da Poesia um poema começa, terra adentro, corpo adentro, futuro adentro.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.