As coisas sendo mais ou menos o que são e não sendo nem pouco mais ou menos o que nós queremos que elas sejam a largada foi adiada para segunda-feira. "A oeste nada de novo", diz o marinheiro; "merda!", retorque o gajo que aspira à qualidade de ex-marinheiro.
"Merda!" fraquinho, mas "merda!" é.
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K. é um grego nos cinquenta e poucos que consegue o prodígio - aparente; no Mediterrâneo é a norma - de ser simultaneamente simpático e reservado. O pouco inglês que fala ajuda à reserva mas não a preenche toda. É eficaz, se bem por vezes me deixe perplexo. N. é um português de quarenta e sete anos, simpático, eficiente, excelente tripulante. Posso estar enganado, mas parece-me que voltei às tripulações normais, depois do terror que foram as do ano passado no transporte para Los Angeles. De qualquer forma creio que não atravessaria com monstros outra vez. É daquelas coisas que se fazem mas não se repetem e eu já bisei. Chega. Três vezes seria mais abuso do que azar.
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Hoje não parei até às quatro da tarde e senti a merda das bactérias ressuscitar. Imagino as batalhas homéricas que se passam nas profundezas do envelope: Augmentin e aliados de um lado, bactérias e diversos órgãos do outro. Uma espécie de guerra mundial num corpo só. Uma guerra corporal, será?
Um autor francês de quem gostava muito disse (enfim, escreveu) uma vez que "Todo o homem é uma guerra civil". Todo o homem é um conjunto de guerras, essa é que é essa. E uma delas perde-se sempre. Trata-se de ir ganhando as outras: de vitória em vitória até à derrota final. Ou então de extirpar dessa derrota a derrota, como da banalidade a banalidade, ou do amor a dor. Vasto e ambicioso programa. E dúbio: quem daria a vida em troca da imortalidade? A alma ainda vá que não vá, é intangível. Mas a vida?
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Fui injusto quando disse que a marina do Bas-du-Fort é igual a todas as outras. Não é; bebo um planteur (de que serve a tonelada de remédios que tomo todos os dias se não puder sequer um planteur beber?) e lembro-me do Marin e do Mango Bay e tal como os animais é assim: algumas marinas são menos iguais do que outras. Bas-du-Fort é uma delas.
(A razão é simples: a náutica de recreio na Guadeloupe esta num patamar muito inferior ao do da Martinique. Não há milagres nem maus-olhados).
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O amor silencioso é o único que merece o nome de amor; todos os outros são diferentes formas de histeria.
"Merda!" fraquinho, mas "merda!" é.
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K. é um grego nos cinquenta e poucos que consegue o prodígio - aparente; no Mediterrâneo é a norma - de ser simultaneamente simpático e reservado. O pouco inglês que fala ajuda à reserva mas não a preenche toda. É eficaz, se bem por vezes me deixe perplexo. N. é um português de quarenta e sete anos, simpático, eficiente, excelente tripulante. Posso estar enganado, mas parece-me que voltei às tripulações normais, depois do terror que foram as do ano passado no transporte para Los Angeles. De qualquer forma creio que não atravessaria com monstros outra vez. É daquelas coisas que se fazem mas não se repetem e eu já bisei. Chega. Três vezes seria mais abuso do que azar.
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Hoje não parei até às quatro da tarde e senti a merda das bactérias ressuscitar. Imagino as batalhas homéricas que se passam nas profundezas do envelope: Augmentin e aliados de um lado, bactérias e diversos órgãos do outro. Uma espécie de guerra mundial num corpo só. Uma guerra corporal, será?
Um autor francês de quem gostava muito disse (enfim, escreveu) uma vez que "Todo o homem é uma guerra civil". Todo o homem é um conjunto de guerras, essa é que é essa. E uma delas perde-se sempre. Trata-se de ir ganhando as outras: de vitória em vitória até à derrota final. Ou então de extirpar dessa derrota a derrota, como da banalidade a banalidade, ou do amor a dor. Vasto e ambicioso programa. E dúbio: quem daria a vida em troca da imortalidade? A alma ainda vá que não vá, é intangível. Mas a vida?
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Fui injusto quando disse que a marina do Bas-du-Fort é igual a todas as outras. Não é; bebo um planteur (de que serve a tonelada de remédios que tomo todos os dias se não puder sequer um planteur beber?) e lembro-me do Marin e do Mango Bay e tal como os animais é assim: algumas marinas são menos iguais do que outras. Bas-du-Fort é uma delas.
(A razão é simples: a náutica de recreio na Guadeloupe esta num patamar muito inferior ao do da Martinique. Não há milagres nem maus-olhados).
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O amor silencioso é o único que merece o nome de amor; todos os outros são diferentes formas de histeria.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.