25.5.17

Diário de Bordos - Aguadulce, Andaluzia, Espanha, 25-05-2017

Comprei jornais: o Le Monde, excelente e socialista; e o El Mundo, menos socialista e quase tão bom. Agora vim para a cama lê-los. A Marina de Aguadulce é medíocre; a cidade também é fraquinha. Serve para as pessoas que vivem em prédios horríveis nas cidades passarem férias em prédios horríveis na praia. Assim o dépaysement não é tão brutal e elas sentem-se um bocadinho em casa. Consegui comprar um Kaspersky mas só chega sexta-feira. Não percebi bem porquê. Se calhar é só a caixa e o programa ele-mesmo chega amanhã. Não sei. Logo verei. Acredito no senhor da loja apesar de não ter percebido metade do que ele dizia. Ou ele falava muito depressa ou eu ouvia devagar. Estava com a atenção alhures, provavelmente. Na empregada do take away, cuja beleza (visível) e doçura (suspeitada) eram estragadas por um anel no nariz. Ou então na porra do vento, que não me larga. Tenho a cabeça que parece um ficheiro grib.

A verdade é que estou cansado sem saber de quê e isso aborrece-me. Tenho as pernas como se tivesse corrido duas maratonas e se ao todo andei duas horas hoje já é pelo menos o dobro do que penso ter andado. Uma hora no máximo e em bocadinhos curtos.

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O bar Mojito, sito na Marina de Aguadulce, não destoa do resto. É uma merda. Mas é o primeiro a abrir e dá para a praia onde as senhoras exibem generosa, orgulhosa e por vezes injustificadamente os seios e a criançada. É o nosso escritório. O critério de selecção das empregadas é discutível, pelo menos para quem ache que a beleza não é tudo (se bem não estrague nada, claro).

Já os empregados são mais simpáticos. Anteontem pedi um Mojito sem açúcar. Recebi uma bebida infecta. Disse ao empregado que aquilo não estava grande coisa e ele justificou-se dizendo que os fazia com 7-Up. 7-Up. "Não o quero, obrigado". Propôs-se fazer outro, que estava igualmente uma merda mas menos enjoativa. Deste não disse nada: achei simpático que o homem tivesse feito outro de moto proprio.

De manhã é aqui que venho ver as previsões meteorológicas e escrever disparates. A praia está deserta, a música é tão má mas menos alto do que à noite e o café bebe-se. As empregadas sorriem pouco mas quem as recrutou percebe de medidas. Deve ter trabalhado numa loja de soutiens (emprego com o qual sonhei muitos anos).

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E é isto. Parecendo que não hoje esperava chegar a Atenas e ainda estou a dez ou quinze dias; tenho uma tripulação porreira e não sei o que vou fazer este Verão excepto que vou passar umas semanas a Genève; os comprimidos cumprem maravilhosamente bem a sua função e está calor. As miúdas são giras; o Licor de Hierbas cada vez melhor. Descubro boa música e uma pianista excelente. Estou a ler um livro magnífico de um autor polaco chamado Marek Hłasko - outra descoberta -. Que mais pedir? Vento decente, talvez, mas isso é perder tempo porque o vento só faz o que quer e se há coisa que eu percebo é quem só faz o que quer.

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