A estibordo a Sicília. A bombordo as Eólicas. Foi nestas ilhas que nasceu o vento. Por assim dizer: foram elas que deram o nome ao respectivo Deus. Há ali ventanias súbitas, furiosas, dementes e super-locais. A meia dúzia de milhas pode não estar um sopro.
São bonitas, as ilhas. Eolo devia ter nascido mulher: parecem seios, como se fossem uma armadilha. "Pões-me esses olhos lúbricos em cima e levas uma rajada que só páras no Samouco", dizem. Ulisses andou por aqui. Em breve passarei entre Scila e Caribdis, espero que com menos incidentes. Já não há remoinhos e as rochas estão bem assinaladas. Não perderei ninguém.
Hoje as ilhas parecem calmas. Eu não: quero chegar a Atenas, ir ao Philos Café, passear em Keramikos e apanhar o avião, ir ao Tabernáculo e ao café Tati e dormir vinte e quatros horas, história de deixar Lisboa entrar-me nos sonhos, na pele, no olfacto (não falemos em tacto, não vão as Eólicas fazer uma crise de ciúmes) e em mim, pousar como o C. R. agora pousa no mar, tranquilo e avança a seis nós e meio como se estivéssemos eu e ele num tapete voador a voar baixinho e devagar, apreciar as Eólicas e de vez em quando olhar para a Sicília passando pelos instrumentos, claro e assim Lisboa vai chegar a mim e eu a ela, desta forma confusa e ansiosa e ao mesmo tempo calma e pacífica, mar chão e vento pela proa, claro.
Mas sem vagas o bicho porta-se bem.
.........
Uma amiga recente - que suspeito vai em breve deixar de ser recente e continuar amiga por muito tempo - falou-me numa nutricionista vegan. É um maravilhoso e único oxímoro; e pode, sobretudo, servir de ponto de partida para grandes ideias de negócio. Alguém já pensou numa Escola de Culinária Mahatma Gandhi, por exemplo? Ou em comercializar uma Dieta Bobby Sands (resultados garantidos ao fim de um mês. Pagamento adiantado)?
........
Fragmento
Um barco é uma pessoa a quem Deus esqueceu de dar o sopro. Nunca se recompôs, claro e agora ou se vinga se tu o esqueces ou te agradece reconhecidamente se te lembrares disso e lhe deres tu essa vida que tanto lhe falta.
São bonitas, as ilhas. Eolo devia ter nascido mulher: parecem seios, como se fossem uma armadilha. "Pões-me esses olhos lúbricos em cima e levas uma rajada que só páras no Samouco", dizem. Ulisses andou por aqui. Em breve passarei entre Scila e Caribdis, espero que com menos incidentes. Já não há remoinhos e as rochas estão bem assinaladas. Não perderei ninguém.
Hoje as ilhas parecem calmas. Eu não: quero chegar a Atenas, ir ao Philos Café, passear em Keramikos e apanhar o avião, ir ao Tabernáculo e ao café Tati e dormir vinte e quatros horas, história de deixar Lisboa entrar-me nos sonhos, na pele, no olfacto (não falemos em tacto, não vão as Eólicas fazer uma crise de ciúmes) e em mim, pousar como o C. R. agora pousa no mar, tranquilo e avança a seis nós e meio como se estivéssemos eu e ele num tapete voador a voar baixinho e devagar, apreciar as Eólicas e de vez em quando olhar para a Sicília passando pelos instrumentos, claro e assim Lisboa vai chegar a mim e eu a ela, desta forma confusa e ansiosa e ao mesmo tempo calma e pacífica, mar chão e vento pela proa, claro.
Mas sem vagas o bicho porta-se bem.
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Uma amiga recente - que suspeito vai em breve deixar de ser recente e continuar amiga por muito tempo - falou-me numa nutricionista vegan. É um maravilhoso e único oxímoro; e pode, sobretudo, servir de ponto de partida para grandes ideias de negócio. Alguém já pensou numa Escola de Culinária Mahatma Gandhi, por exemplo? Ou em comercializar uma Dieta Bobby Sands (resultados garantidos ao fim de um mês. Pagamento adiantado)?
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Fragmento
Um barco é uma pessoa a quem Deus esqueceu de dar o sopro. Nunca se recompôs, claro e agora ou se vinga se tu o esqueces ou te agradece reconhecidamente se te lembrares disso e lhe deres tu essa vida que tanto lhe falta.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.